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    Marcelo Leite

    Noites quentes

    26/01/2014 01h39

    O verão paulistano está infernal. Todos se queixam da dificuldade para dormir com tanto calor.

    Em geral não dá para tomar o conteúdo de queixas individuais como dado de realidade. Mas, desta vez, a voz do povo encontra eco no que dizem os termômetros.

    Os primeiros 30 dias de verão (iniciado em 21 de dezembro) foram mesmo mais quentes que a média.

    Isso pode ser verificado, por exemplo, com as máximas diárias. A média das temperaturas mais altas tomadas a cada dia no mirante de Santana (bairro da zona norte da capital), nas três últimas décadas, ficou em 28,2°C.

    Considerado só o período de 22 de dezembro a 21 de janeiro, neste verão os paulistanos viram esses termômetros subirem acima disso em 27 dos 31 primeiros dias da estação. É o que mostra levantamento do colega de Folha Marcelo Soares, um ás das planilhas e bases de dados, com registros do Instituto Nacional de Meteorologia.

    Em três décadas, só o primeiro mês do verão de 1997-98 teve tantos dias com temperatura acima da média. A Pauliceia tem mesmo do que reclamar.

    Outra forma de detectar a tendência de aquecimento são as noites quentes, ou seja, o registro das temperaturas mínimas diárias. Tomando por base o mesmo primeiro mês do verão, 2014 até que não se destaca com seus 20 dias acima da média de 19,1°C: houve sete casos com mais registros de mínimas elevadas para infernizar o sono dos paulistanos.

    Note que, no gráfico, a maioria desses picos de noites quentes ocorre depois de 1994. É também visível, na reta que sintetiza os altos e baixos da figura, uma clara tendência de alta. Não é à toa que tantos estão comprando aparelhos de ar condicionado para casas que nunca precisaram deles.

    Mais noites quentes é uma previsão comum dos modelos que projetam o aquecimento global. Ocorre que São Paulo também padece do efeito "ilha de calor": grandes áreas urbanas retêm radiação solar diurna no seu mar de concreto e a liberam à noite. Não há, ainda, como separar um efeito do outro.

    "Algo observado na região Sudeste são as tendências positivas na frequência de noites e dias quentes e negativas na de noites e dias frios", diz José Marengo, do Centro de Ciências do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. "É uma mistura de variabilidade natural do clima e de aquecimento causado pela humanidade, com a urbanização e o aumento de CO2 na atmosfera."

    Na semana passada, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA informou que 2013 foi o quarto ano mais quente desde 1880. Como ele, todos os anos após 2000 figuram entre os 15 mais escaldantes (1998 foi o pior).

    marcelo leite

    É repórter especial da Folha,
    autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ciência - Use com Cuidado' (Unicamp).
    Escreve aos domingos
    e às segundas.

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