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    Marcelo Leite

    Brilha o sol na Alemanha

    10/01/2016 02h00

    Li na Folha sexta-feira (8) que Itaipu voltou a ser a maior hidrelétrica do mundo, tendo ultrapassado a usina de Três Gargantas na China no ano passado em produção de energia. Ali na fronteira com o Paraguai foram gerados em 2015 seus 89,2 milhões de megawatts-hora (MWh). No mesmo período, a chinesa produziu bem menos, 87 milhões de MWh.

    Agora, se o critério empregado for o de capacidade instalada, Três Gargantas continua na frente. Nada mudou aí. Uma coisa é quanta energia as turbinas da usina podem teoricamente gerar. Outra, bem diferente, é quanta água passa de fato por elas ao longo do ano. E 2015 foi bem generoso com chuvas na região dos rios que alimentam o lago de Itaipu, não tanto com os rios chineses.

    China, Brasil, Paraguai –o que isso tudo tem a ver com a Alemanha? É que outro recorde eletrizante chamou minha atenção na sexta: o país comandado por Angela Merkel, além de receber mais de 1 milhão de refugiados no ano que já foi tarde, quebrou a sua própria marca anterior de eletricidade de fonte solar.

    Foram 36,8 milhões de MWh em 2015, contra 34,9 milhões de MWh em 2014. Quase a metade da eletricidade de Itaipu (para ser exato, 41%), mas gerada sem alagar um centímetros terra alheia, sem desalojar ninguém.
    E, acima de tudo, sem originar o enorme potencial para corrupção das megaobras civis brasileiras. Como Belo Monte, que está pondo de pernas para o ar a vida de dezenas de milhares de pessoas e sobre a qual já respingam pixulecos da Operação Lava Jato.

    A eletricidade solar (fotovoltaica) não é obtida em usinas mastodônticas, e sim de forma descentralizada. Painéis solares são em geral instalados em telhados de casas e edifícios. Uma tendência que ainda engatinha no Brasil, mas que se tornou marca inconfundível da paisagem alemã –basta ver a quantidade de placas nos tetos de celeiros daquele país europeu.

    Não sei se isso tem a ver com o fato de Merkel ter sido uma cientista (físico-química) na Alemanha Oriental e já ter ocupado o cargo de ministra do Ambiente em seu país. Decerto não terá atrapalhado.

    Enquanto isso, por aqui, tivemos de nos virar com uma tecnocrata do setor elétrico (leia-se: barrageiro) que, ocupando sucessivamente o ministério de Minas e Energia, a Casa Civil e a Presidência da República, nunca se entusiasmou nem com a energia solar nem com a eólica (ventos). Só nos últimos anos a segunda começou a decolar, e logo veremos a primeira também alçar voo –apesar da presidente Dilma Rousseff.

    A razão é simples e transparente, para quem quiser ver e tiver os olhos postos no horizonte: energias renováveis são o futuro. Os alemães –ambientalistas, industriais, pesquisadores, não só Merkel (que pertence a um partido conservador)- viram isso. Os chineses também, e se tornaram os maiores fornecedores mundiais de painéis fotovoltaicos, além de instalar pencas de "solar farms" (fazendas solares) pelo país.

    Claro, também é possível, ainda que não imprescindível, construir grandes usinas de energia fotovoltaica, instalando centenas ou milhares de placas uma ao lado da outra. Motores inteligentes rotacionam os painéis conforme o movimento aparente do Sol no céu, para extrair o máximo dessa fonte inesgotável).

    Alguém aí acha que o Sol brilha mais na Alemanha que no Brasil?

    marcelo leite

    É repórter especial da Folha,
    autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ciência - Use com Cuidado' (Unicamp).
    Escreve aos domingos
    e às segundas.

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