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    Marcelo Viana

    Olimpíada de matemática também descobre professores de excelência

    15/12/2017 02h00

    Edson Silva -27.mar.2013/Folhapress
    Alunos do 9º ano em aula de matemática
    Alunos do 9º ano em aula de matemática

    A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), criada pelo Impa em 2005, movimenta a cada ano mais de 18 milhões de jovens em praticamente 100% dos municípios brasileiros. Isso faz dela a maior competição escolar do mundo. Em 2017 ficou ainda maior, com a adesão das escolas particulares.

    A Obmep tem como metas incentivar o estudo da matemática e descobrir talentos, em todo o território nacional e em todos os estratos sociais.

    O impacto da Olimpíada e dos programas de formação que a acompanham –Programa de Iniciação Científica (PIC), Programa de Iniciação Científica e Mestrado (Picme), Polos Olímpicos de Treinamento Intensivo (Poti) e Obmep na Escola– nos estudantes está amplamente comprovado por estudos independentes.

    Uma avaliação conduzida em 2014, por Francisco Soares (UFMG e ex-presidente do Inep), comprovou que escolas com envolvimento ativo na Obmep apresentam uma melhora média de 26 pontos na Prova Brasil.

    É como se oferecessem a seus alunos 1,5 ano extra de escolaridade!

    O mais importante: esta melhora diz respeito a todos os alunos dessas escolas, não apenas aos premiados.

    Esse mesmo ponto é ressaltado na tese de doutorado defendida recentemente na renomada Universidade Harvard pela professora Diana Moreira, da Universidade da Califórnia.

    Diana descobriu que o efeito de ser premiado na Obmep beneficia o desempenho não apenas do ganhador, mas também de seus colegas de turma.

    Comparando ao longo do tempo os resultados globais de turmas com alunos premiados a outras de estudantes com perfil e notas muito próximas, mas não premiados, ela constatou que o desempenho dos colegas dos ganhadores melhora consideravelmente.

    Em particular, suas chances de virem a ingressar em um curso superior dos mais disputados são até 10% maiores, na comparação com aqueles de turmas sem premiados da Obmep.

    Por outro lado, o papel da Olimpíada como ação de capacitação de professores tem sido muito menos destacado e merece uma análise cuidadosa.

    Dado que a formação do professor é, possivelmente, o maior calcanhar de Aquiles de nossa educação, como a Obmep contribui para melhorar a qualidade dos docentes, somando-se a iniciativas como o Profmat (mestrado profissional para professores de matemática)?

    Perguntei a um grupo de professores de diferentes partes do país como seu envolvimento com a Obmep influenciou o ambiente de trabalho e sua atuação.

    Com resultados comprovados na Olimpíada, eles são representativos de centenas de professores brasileiros que encontram na Obmep um instrumento de aprimoramento profissional.

    Antônio Amaral dá aulas na escola Augustinho Brandão, no município piauiense de Cocal dos Alves (6 mil habitantes e IDH 0,497, um dos 50 piores do país). Alcançou celebridade nacional por ter transformado sua escola num celeiro de campeões da Obmep.

    A Augustinho Brandão tem a mais alta relação premiação/aluno participante entre todas as escolas do país e, em 2017, realizou mais uma façanha: todos os seus 23 estudantes que participaram na fase final foram premiados (22 medalhas e uma menção honrosa).

    Com IDEB de 6,2 no segundo ciclo do Ensino Fundamental, é a prova de que é possível construir excelência em qualquer ponto do território nacional.

    "Em Cocal dos Alves os estudantes sabem que a Obmep não é só uma prova para resolver problemas de Matemática. São todos cientes das oportunidades criadas pela participação na Olimpíada", afirma. "Com a escola e os professores preparados para atendê-los bem, os estudantes vivem intensamente os desejos de conquistas."

    Segundo ele, a competição o levou a buscar materiais "com abordagem mais verdadeira da matemática" do que a da maioria dos livros didáticos e a fazer uma "imersão em assuntos que precisavam de aprofundamento em sala".

    Isso trouxe a consciência de como é importante uma abordagem didática que "valorize a invenção e estimule a curiosidade, dando lugar ao esforço daqueles que persistem na busca de soluções para problemas novos e desafiadores".

    Questionado sobre como a Obmep o mudou pessoalmente, Amaral responde: "Foi o maior programa de formação continuada para mim como professor de matemática".

    Geraldo Amintas é professor na escola Terezinha Pereira, na pequena Dores do Turvo (4,5 mil habitantes), na zona da Mata Mineira. Não esconde o orgulho pelos 38 anos de magistério, exclusivamente em escolas públicas.

    Os resultados notáveis da Terezinha Pereira na Obmep –são 105 medalhas e 184 menções honrosas– "geraram um grande reconhecimento da comunidade e dos órgãos de governo e enorme destaque nos meios de comunicação", afirma.

    Para Amintas, "tudo isso foi canalizado, por professores e gestores para a melhoria e o desenvolvimento da instituição". O Ideb subiu de 4,0 para 5,6 no segundo ciclo do Ensino Fundamental. Em sua opinião, "o sucesso alcançado na Obmep exerceu uma pressão positiva sobre os profissionais da escola em outras áreas, que buscaram também reciclar suas práticas pedagógicas".

    E contribuiu decisivamente para a melhora da autoestima e confiança de seus alunos, que agora buscam as grandes universidades públicas para darem sequência aos estudos.

    Ele considera que a Obmep foi um marco em sua vida profissional, que o tornou um professor mais bem preparado e interessado em ver o crescimento dos alunos. "Em 2005, com mais de 25 anos de carreira, o caminho normal teria sido iniciar um período de acomodação e uma preparação para a aposentadoria". Mas "a descoberta da Obmep e as mudanças que percebi que poderia trazer para o ensino de matemática em minha escola trouxeram um novo estímulo".

    (Continuaremos na próxima semana).

    marcelo viana

    Matemático e diretor-geral do Impa, é ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France. Aqui, mostra como a matemática pode transformar vidas e ser divertida. Escreve às sextas-feiras.

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