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    Marcia Dessen

    Incerteza e volatilidade dificultam decisões de investimento

    04/03/2013 03h00

    Nada fácil tomar decisões de investimento em ambiente de tantas incertezas como o atual. Temos acompanhado o dilema das autoridades governamentais acerca do rumo da economia. O país precisa crescer, mas a inflação deve ficar dentro da meta.

    A taxa de juros em níveis baixos favorece o crescimento, os investimentos na capacidade de produção das empresas, gera empregos e estimula a economia, mas pode gerar inflação. Se o governo quiser conter a inflação, e parece que quer, a elevação dos juros não está descartada.

    A taxa de câmbio mais alta favorece exportações, mas encarece as importações que, por sua vez, contribuem para a elevação de alguns preços e, portanto, dos índices de inflação. Não é simples equilibrar variáveis e alcançar crescimento sem inflação. Nos faz lembrar da história do cobertor curto que ou bem cobre o peito ou os pés.

    No início do ano a política monetária parecia mais clara, favorecendo a decisão de empresas e investidores em geral. Mas a inflação não dá trégua e a alta persistente dos índices de preços obrigam o governo a repensar sua estratégia. A leitura do mercado foi a de que será inevitável a elevação dos juros.

    Como de praxe, o mercado não espera o fato acontecer; antecipa o movimento, provocando oscilação nos preços dos ativos negociados.

    Investidores em títulos públicos via Tesouro Direto e fundos de renda fixa que acompanham de perto a rentabilidade de suas carteiras perceberam valorização negativa ou inferior à taxa Selic nos meses de janeiro e fevereiro.

    Quanto mais longo o prazo, mais negativo o impacto. Taxa de juros incerta, índice de ações em queda, taxa de câmbio sem definição. O que fazer?

    DINHEIRO NOVO

    Se você tem recursos novos para investir, é recomendável assumir uma posição em ativos que acompanham a flutuação da taxa de juros de mercado: LFT, CDB DI, fundos DI, por exemplo.

    Trata-se de uma estratégia conservadora e defensiva que protege o seu capital durante períodos de indefinição.

    Para os que avaliam que a elevação dos juros foi exagerada e acreditam na queda dos juros, se apresenta a oportunidade de comprar títulos de taxa prefixada, como a LTN e NTN-F, por exemplo. A mesma estratégia se aplica à NTN-B, que paga um cupom de juro prefixado além da variação do IPCA.

    Se a expectativa de estabilidade ou queda dos juros ocorrer, o preço sobe e a posição pode ser vendida com lucro. Essa é uma estratégia mais especulativa, não sendo recomendada para investidores com baixa tolerância a riscos.

    CARTEIRA ATUAL

    Quem já tem uma carteira de investimento deve estar se perguntando o que fazer. Sair das posições que estão perdendo valor? Ficar quieto enquanto a turbulência não passa, esperando notícias mais claras, tendência definida e ventos mais favoráveis?

    Se você faz parte desse grupo, recomendo recordar seus objetivos quando a decisão de investimento foi tomada. E, também, lembrar que todo investimento tem risco e que a volatilidade de preços, embora não desejada, pode acontecer.

    Há alguns meses, muitos investidores saíram da posição confortável, e pouco rentável, das operações atreladas à taxa Selic ou DI, e migraram para investimentos mais arriscados em busca de melhor retorno.

    Então... esse é um dos riscos a que você sabia que estava exposto, o chamado risco de mercado, representado pela oscilação dos preços dos títulos que você possui.

    Ninguém quer aplicar em renda fixa e perder dinheiro, não é mesmo? O nome é ruim e induz o investidor ao erro de acreditar que o investimento é totalmente seguro, livre de riscos.

    Títulos de prazo mais longo expõem o dinheiro investido a maior volatilidade de preços. Oportuno lembrar que a perda só se concretiza se você vender os ativos, realizando o prejuízo. Se a economia se recuperar, os preços se estabilizam e muitas das perdas potenciais poderão ser evitadas.

    LONGO PRAZO

    Quem investiu recursos de longo prazo em ativos de taxa prefixada e ações, por exemplo, sabe que está exposto a volatilidade no curto e médio prazo. Mas acredita que, no horizonte de dez anos ou mais, terá retorno suficiente para compensar os riscos dessa estratégia.

    Mantenha a posição se a escolha foi consciente. Reduza a posição se avaliar que existe uma concentração exagerada e você está muito desconfortável com a situação. O cenário atual é um bom teste para conhecermos nossa verdadeira tolerância a risco.

    CURTO PRAZO

    Se você tem perspectiva de vender ou resgatar títulos para compromissos no curto prazo, pense seriamente na alternativa de sair da posição, ou de parte dela, para gerar caixa e afastar o risco de o cenário se agravar e comprometer ainda mais seu resultado.

    Migrar para operações atreladas à taxa de juros de mercado faz mais sentido nesse contexto.

    FUNDOS

    Se você investe coletivamente, por intermédio de fundos de investimento de gestão ativa, avalie a possibilidade de deixar as coisas como estão, transferindo para o gestor da carteira a decisão do que fazer.

    Na gestão ativa, o gestor tem o desafio de estar no lugar certo na hora certa.

    Os movimentos de sair de uma posição de taxa pré para taxa pós, de alongar ou encurtar o prazo médio da carteira, de entrar ou sair da Bolsa, de comprar ou vender moeda estrangeira são feitos pelo gestor.

    E, quando o serviço é bem executado, o investidor se beneficia. Esse é o serviço que você compra e paga com a taxa de administração. Fique de olho.

    marcia dessen

    É planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'. Escreve às segundas.

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