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    Marcia Dessen

    Dívida, pra que te quero? E como vou te pagar?

    22/04/2013 03h00

    Na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada em março de 2013 pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), os números indicam que 61,2% das famílias pesquisadas possuem dívidas assumidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro.

    Significa que mais de 60% das famílias utilizam crédito, e pagam juros, para realizar os seus projetos de vida.

    Nada de errado até aqui, pelo contrário: o crédito é uma forma legítima de viabilizar projetos para os quais não há recursos imediatos.

    Mas vamos avançar na leitura e análise dos números e entender o que eles revelam.

    RENDA COMPROMETIDA

    A pesquisa informa que cerca de 30% da renda dessas famílias está comprometida com dívidas assumidas. Algumas famílias, cerca de 20%, vão além e admitem ter mais de 50% da renda comprometida com essas dívidas.

    Dependendo do tipo de dívida e da destinação do dinheiro obtido, podemos antecipar que, em breve, essas famílias enfrentarão problemas financeiros.

    Pior do que gastar muito é não saber quanto se gasta. A pesquisa revela que mais de 5% das famílias não sabe informar qual a parcela da renda familiar comprometida com dívidas! Complicado...

    ATRASO

    As contas de cerca de 20% das famílias dessa amostragem ainda não foram pagas e estão vencidas há 60 dias. Algumas famílias, cerca de 6,5%, se encontram em situação mais crítica e declararam não ter condições de quitar os compromissos assumidos.

    A essas pessoas recomendo procurar o credor para uma conversa franca antes que a situação se agrave.

    O problema é de ambas as partes, e credor, banco, financeira, loja ou administradora do cartão de crédito precisam ajudar o devedor a encontrar uma maneira de pagar o que deve. Afinal, são a parte mais interessada!

    USO DO CRÉDITO

    Eu já imaginava que o montante de dívidas com cartão de crédito fosse elevado, mas confesso que fiquei espantada com a informação: 76% da dívida dessas famílias (as endividadas) é representada pelo cartão de crédito, o tipo de crédito mais caro do país!

    O segundo lugar é ocupado pelo carnê, que representa 20% do total, seguido do financiamento do carro, que responde a 13% das dívidas.

    Se considerarmos somente as famílias com renda superior a 10 salários mínimos, observa-se que 30% da renda está comprometida com o financiamento do carro.

    Preocupante! É provável que a financeira, que concede o crédito, e o cidadão, que contrai a dívida, estejam se esquecendo de que manter o carro comprometerá mais uma parcela significativa da renda familiar.

    O final da história a gente já sabe: inadimplência alta, com potencial perda do carro, já que ele não garante o financiamento.
    Esse final infeliz, totalmente previsível, transforma o sonho em pesadelo.

    ACESSO AO CRÉDITO

    Diz o ditado que quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza. O crédito é o melado da vez. Ficou mais fácil e mais barato (nem sempre) conseguir crédito no mercado e, assim, conseguir dinheiro para fazer um monte de coisa que há tempos está na fila de sonhos.

    Acontece que existem créditos e créditos. São muitas as modalidades disponíveis no mercado, e o que os números revelam é que a preferência do brasileiro é exatamente a que ele deveria evitar, parcelar o pagamento do cartão.

    De acordo com a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a taxa de juros média cobrada pelas administradoras de cartões de crédito em março era de 9,37% ao mês.

    Uma compra de R$ 3.000 parcelada em dez meses com essa taxa custará R$ 7.347! O usuário do cartão vai pagar R$ 4.347 só de juros. Não é à toa que ele não consegue pagar a conta.

    Minha teoria é que as pessoas usam esse crédito porque ele está disponível, não precisam passar pelo constrangimento de pedir dinheiro emprestado para ninguém, nem oferecer garantias.

    A conveniência é grande, mas o preço a pagar, maior ainda. Consulte outros tipos de crédito com taxas muito mais razoáveis. Dá mais trabalho, mas vale a pena.

    FALTA PLANEJAMENTO

    Estou convencida de que as famílias poderiam evitar problemas e administrar melhor seu dinheiro, suas compras, dívidas, se adotassem um procedimento simples antes de gastar: planejar.

    O orçamento da grande maioria das famílias é justo e já está totalmente comprometido com as despesas necessárias de moradia, alimentação, saúde e transporte.

    Quando optamos por uma compra a crédito, precisamos excluir despesas do nosso orçamento para encaixar esse novo custo que estamos voluntariamente contraindo.

    Caso contrário, a conta não fecha e o final da história a gente já sabe. Pense, planeje antes de utilizar crédito.

    E evite usar crédito para consumo. Utilize para construir patrimônio e proporcionar conforto e bem-estar para você e sua família.

    marcia dessen

    É planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'. Escreve às segundas.

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