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    Marcia Dessen

    Aplicação automática da conta-corrente não é investimento

    17/02/2014 03h00

    José não tem o hábito de conferir os extratos bancários, mas, um dia desses, reparou que os rendimentos de um investimento que tem são muito baixos, próximos a zero. Estranhando o fato, resolveu investigar.

    Descobriu que o banco não gosta de dinheiro parado em conta-corrente e transfere o saldo acumulado para uma "aplicação" com mecanismo de resgate automático para cobrir eventuais saques feitos por ele.

    Como os depósitos em conta-corrente não são remunerados, esse procedimento parece, a princípio, uma iniciativa louvável do banco. Entretanto, José tem sido induzido a erro porque deixa de gerenciar adequadamente seus recursos excedentes, acreditando que o banco já fez isso por ele.

    O problema é que José, assim como a maioria dos correntistas de bancos, não sabe de que tipo de investimento se trata nem qual a remuneração dessa operação. Então, vamos aos fatos.

    BANCOS

    O dinheiro depositado em conta-corrente pode ser sacado a qualquer momento e não tem nenhuma remuneração. Sem levar outras variáveis em consideração, parece um presente para os bancos, não é mesmo? Dinheiro de graça, quem não quer?

    Acontece que esse dinheiro não fica para os bancos, como a princípio pode parecer, pois existe uma série de exigências do Banco Central do Brasil que precisam ser cumpridas.

    Mais da metade do dinheiro é recolhida ao Banco Central a título de depósito compulsório, sem remuneração. Até aqui, tudo bem: se o banco não paga juros, não é justo que receba. Assim, o dinheiro de graça fica para o governo.

    Adicionalmente, os bancos são obrigados a emprestar uma boa fatia desse montante em operações de crédito rural, com taxas de juros subsidiadas, muito inferiores às praticadas no mercado. Uma fatia menor é destinada a operações de microcrédito, restando apenas cerca de 15% para os bancos movimentarem livremente.

    Deu para perceber que dinheiro parado em conta não é um bom negócio para os bancos? Pois bem, para evitar as exigibilidades que não interessam, os bancos criaram produtos que direcionam o dinheiro excedente das contas-correntes para aplicações automáticas.

    A rentabilidade que o banco oferece é baixíssima porque assume que, se o dinheiro estava parado na conta, o cliente não está preocupado com rentabilidade. Será?
    José
    José entendeu que a conta-corrente não é o lugar apropriado para acolher os recursos que não serão usados no mês com as despesas do orçamento doméstico.

    Os recursos excedentes, planejados para realizar projetos futuros, devem ser destinados a aplicações financeiras de verdade, selecionadas de acordo com o objetivo do investimento, o nível de risco aceitável e o horizonte de tempo da aplicação.

    Existem diversas alternativas de investimento, das mais simples, como os depósitos em poupança, às mais complexas, como alguns fundos de investimento. Muitas oferecem liquidez diária para atender as necessidades de caixa sem abrir mão da rentabilidade.

    José está mudando seus hábitos, convencido de que vale a pena conferir, controlar, planejar.

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    DICAS QUE VALEM DINHEIRO

    1 Dedique algum tempo para elaborar seu orçamento. Um controle bem-feito ajuda a reduzir despesas e a planejar projetos para o futuro

    2 Não deixe dinheiro parado em conta-corrente exceto no caso de valores que serão utilizados em poucos dias

    3 Não utilize o limite do cheque especial nem financie a fatura do cartão de crédito caso tenha dinheiro aplicado. Os juros pagos nessas modalidades de crédito, as mais caras do mercado, serão muito maiores do que os juros recebidos nas aplicações financeiras

    4 Tenha sempre um investimento com liquidez imediata para cobrir necessidades de curto prazo. E recomponha essa reserva assim que seu fluxo de caixa permitir

    5 Evite as aplicações automáticas que investem o dinheiro parado em conta-corrente. Elas são boas para os bancos, não para você

    marcia dessen

    É planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'. Escreve às segundas.

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