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    Marcia Dessen - Olívia Freitas

    Juro sobe, preço cai. Por quê?

    09/02/2015 02h00

    O principal risco das operações de renda fixa é o de crédito, representado pela possibilidade de o investidor não receber seu dinheiro de volta. Mas existe um outro risco, mais visível, que incomoda e surpreende: a possibilidade de perder dinheiro em uma operação de "renda fixa".

    Esse é o risco de mercado que atinge somente os títulos de taxa prefixada ante a oscilação da taxa de juros, antes da data do vencimento do papel.

    Se apresenta nos títulos públicos Tesouro Prefixado, com ou sem juros semestrais, Tesouro IPCA, com ou sem juros semestrais, e em qualquer outro título de taxa prefixada.

    Por que o preço cai sempre que a taxa de juros sobe? Para entender esse risco, é preciso inicialmente compreender o que foi comprado.

    A COMPRA

    Se engana o investidor que acredita que comprou uma taxa de juros prefixada durante um determinado período de tempo. Na verdade, comprou um título que pagará determinado valor de resgate, na data do vencimento. A taxa prefixada não foi o objeto da negociação! Foi utilizada somente para calcular esse valor. O elemento prefixado da operação é o valor futuro de resgate. Exemplificando, um depósito de R$ 100 mil por um ano a 12% ao ano, pagará R$ 112 mil no vencimento.

    A VENDA

    A flutuação de preço que tanto incomoda o investidor ocorre entre a data da compra e a data do vencimento, sendo provocada por uma mudança na taxa de juros de mercado. Esse é o risco de mercado e afeta somente os investidores que precisam vender o título antes do vencimento.

    Contrariando a intuição, quando a taxa de juros sobe, o preço cai. Para entender por que a relação entre o preço e a taxa de juros é inversamente proporcional, vamos recorrer ao conceito de desconto.

    Suponha que o preço de uma mercadoria é R$ 100 sendo possível obter desconto para pagamento à vista. Quanto maior a taxa de desconto, menor será o preço da mercadoria. O preço será R$ 90 dado um desconto de 10% e será R$ 95 se o desconto for de apenas 5%. O preço cai quando a taxa de desconto sobe, e sobe quando a taxa de desconto cai.

    O mesmo conceito se aplica para precificar os títulos de taxa prefixada antes do vencimento.

    Nesse caso, será preciso encontrar um novo investidor que, naturalmente, deseja ganhar a taxa de juros que o mercado paga naquele momento.

    Assim, o valor futuro de R$ 112 mil será descontado pela taxa de juros vigente, e não pela taxa de juros negociada no dia da compra.

    Supondo o mesmo prazo de um ano e valor de resgate de R$ 112 mil, descontado a 15% (taxa de juros mais alta), o preço do título será R$ 97.391,30 (112.000/1.15), representado perda de valor.

    Descontado a 10% (taxa de juros mais baixa), o preço do título será R$ 101.818,18 (112.000/1.10), representando ganho de valor.

    O equívoco mais frequente é supor que o valor aplicado será corrigido pela taxa de juros negociada no passado, pelo prazo decorrido entre a data da compra e a data da revenda.

    Como vimos no exemplo, o procedimento correto é descontar o valor futuro de resgate pela taxa de juros vigente, pelo prazo a decorrer até o vencimento.

    O PRAZO

    Além da taxa de juros, outra variável impacta o preço: o prazo do título. Quanto mais longo, maior será o impacto.

    Juros em alta provocam queda no preço, e a perda de valor será tanto maior quanto maior for o prazo do título. Investir em títulos mais curtos é uma forma de reduzir o risco de mercado.

    O RESGATE

    O valor futuro contratado permanece intacto. Mas para recebê-lo é preciso esperar o vencimento, data na qual o título será resgatado, e o capital, acrescido dos juros prefixados, creditado ao investidor.

    Sendo assim, quem compra o título diretamente não precisa de liquidez e pode aguardar o vencimento, afastando o risco de mercado. A estratégia não se aplica no caso de fundos de investimento abertos já que as cotas não têm vencimento.

    marcia dessen

    É planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'. Escreve às segundas.

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