Todo ano a história se repete, e lá vamos nós atrás da papelada necessária para prestar contas à Receita Federal.
Durante o ano todo nos furtamos de fazer planejamento financeiro, de controlar nossas despesas, fugindo da responsabilidade de prestar contas a nós mesmos de nossas escolhas financeiras, nem sempre assertivas. Entretanto, nos rendemos à obrigação de relevar aos outros a intimidade de nossas finanças.
A hipótese de ignorar o leão não está disponível. Todos os contribuintes elegíveis devem apresentar a DIR-PF (Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física) dentro do prazo estabelecido pela Receita.
O objetivo da declaração é apurar se o imposto pago na fonte foi maior ou menor do que o imposto devido. Quem pagou a mais terá restituição; quem pagou a menos pagará imposto adicional e quitará seu compromisso com a Receita Federal, sempre atenta para abocanhar uma fatia de nossos ganhos.
O OLHAR DO LEÃO
A DIR-PF vai muito além de um instrumento para arrecadar impostos. Ela permite à Receita Federal fiscalizar se o valor deduzido por um contribuinte foi declarado pelo outro. O valor de uma consulta médica, por exemplo, será deduzido da renda tributável de quem pagou e será tributado na declaração do profissional da área da saúde que recebeu o pagamento. Hoje em dia, a Receita tem mecanismos para cruzar as informações, não arrisque.
Outra informação valiosa para a Receita é identificar se o contribuinte consegue explicar a origem da riqueza acumulada.
Se a renda anual do contribuinte foi de R$ 200 mil, por exemplo, como justificar a aquisição de um imóvel ou uma aplicação financeira no valor de R$ 1 milhão? Subtraia o valor da posição patrimonial do último exercício da posição do ano anterior. A renda total declarada deve justificar, com folga, o crescimento patrimonial.
O SEU OLHAR
Chegou a hora de dizer para o leão fatos que talvez tenhamos omitido de nós mesmos. Aproveite para examinar os números sob a sua ótica e refletir sobre a destinação do dinheiro ganho durante um ano inteiro de trabalho.
Quanto você tinha no ano anterior e quanto tem agora? A resposta a essa pergunta deixa claro quanto de sua renda foi destinada à formação de patrimônio. Se a variação foi negativa ou neutra, significa que você gastou praticamente tudo o que ganhou, transferindo sua riqueza para terceiros.
Avalie se os números refletem decisões que foram conscientemente tomadas. Reflita se é possível aumentar sua capacidade de poupança visando ampliar seu patrimônio. Lembre-se de que no futuro ele proverá boa parte da renda que hoje depende exclusivamente do seu trabalho.
ORGANIZE-SE
Prepare-se para essa prestação de contas separando, durante o ano, os documentos que serão necessários para fazer a declaração, tais como comprovantes de pagamento to de despesas dedutíveis (saúde, educação, doação etc.); compra e venda de imóveis; compra e venda de ações.
Outros documentos são enviados pela fonte pagadora. Os exemplos mais comuns são o informe de rendimentos de trabalho assalariado, extratos bancários informando empréstimos e aplicações financeiras, informe dos planos de previdência e dividendos recebidos de ações.
FAÇA MELHOR
Analise a natureza de seus ativos; idealmente eles devem gerar riqueza e renda complementar durante o ano, como imóveis alugados e aplicações financeiras, por exemplo. Assim, poderão reduzir a dependência da renda proveniente do trabalho.
Analise seu fluxo de caixa e estabeleça uma meta para o próximo ano: aumentar em 10% ou 20% o montante de aplicações financeiras para constituir um saudável fundo de reserva.
Faça da sua declaração do Imposto de Renda um instrumento de planejamento financeiro, e não um ato mecânico e burocrático, despido de qualquer significado.
É planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'. Escreve às segundas.