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    Marcia Dessen

    Brasileiro gosta de perder dinheiro

    22/06/2015 02h03

    Se perguntarmos a um brasileiro que cogita investir R$ 10 mil na Bolsa de Valores se ele aceitaria perder R$ 3.000 (resgatar R$ 7.000) na expectativa de ganhar R$ 5.000 (resgatar R$ 15 mil), a resposta da maioria seria: "Não, obrigado, nem pensar!". Avesso a riscos, as conservadoras aplicações em renda fixa são preferidas por milhões de investidores.

    Entretanto, esse mesmo investidor que não está disposto a perder dinheiro em Bolsa perde uma quantidade nada desprezível de dinheiro quando aceita ganhar menos na aplicação financeira; quando paga mais por utilizar a modalidade errada de crédito; e quando assume riscos exagerados em aplicações que não conhece.

    POUPANÇA

    A rentabilidade atual da poupança é de aproximadamente 0,67% ao mês, ante 0,97%, líquido de imposto, da taxa básica de juros da economia (Selic de 13,75%).

    Em cinco anos, considerando estável a diferença entre as taxas, um investidor que tem R$ 100 mil na poupança deixa de ganhar cerca de 20% de juros. Em dez anos, transfere 40% da riqueza que poderia ser sua para as instituições financeiras que captam dinheiro pagando juros inferiores aos vigentes no mercado.

    Espontaneamente, o banco não oferecerá investimento mais rentável porque significará aumento de custo para ele. A iniciativa tem de ser sua! Basta conversar com o gerente e negociar condições para sair da poupança e migrar para outro investimento, como CDB, LCI e LCA, que correm o mesmo tipo de risco dos depósitos em poupança (risco de crédito do banco) e contam com a mesma garantia do Fundo Garantidor de Créditos.

    Comprar títulos públicos via Tesouro Direto ou aplicar em fundos DI com taxa de administração baixa são outras alternativas conservadoras e mais rentáveis.

    CAPITALIZAÇÃO

    A perda de quem compra título de capitalização é ainda maior. Muita gente se engana ao acreditar que está investindo dinheiro. Indisciplinado para poupar, opta pela capitalização porque entende ser uma "obrigação" e sabe que será punido se resgatar o dinheiro antes do prazo. Os juros são perto de zero, e o capital aplicado, devolvido depois de muitos anos.

    Em cinco anos, por exemplo, a aplicação na poupança teria pago 50% de juros. Aplicações mais rentáveis, entre 60% e 70%. Essa é a quantidade inacreditável de juros que se deixa de ganhar. Os defensores da modalidade diriam que, além de guardar dinheiro (somente guardar e não investir), você pode ser sorteado e ganhar alguma coisa. Surge então a verdade sobre o produto: loteria, jogo, nada além disso.

    PIRÂMIDES

    É assustadora a quantidade de gente que perde dinheiro em pirâmides financeiras. E aqui estamos falando de perda mesmo, entregar uma quantia de dinheiro sem informação adequada sobre os riscos do investimento, seduzidos pela propaganda das empresas que oferecem lucro rápido sem esforço.

    O Ministério Público tenta combater o crescimento vertiginoso de empresas que praticam o crime de pirâmide disfarçado de marketing multinível e estima cerca de três novos casos a cada semana!

    O dinheiro dos novos participantes paga os mais antigos e o esquema desmorona quando o ingresso de novos associados diminui, deixando muita gente no prejuízo. Estima-se que 90% dos investidores vão perder seu dinheiro no período de 18 meses, prazo médio de sobrevivência de uma pirâmide.

    CARTÃO DE CRÉDITO

    Outro comportamento equivocado que custa muito para os brasileiros é utilizar o limite do cartão de crédito para financiar hábitos de consumo. Embora existam outras modalidades de crédito mais baratas, o brasileiro insiste em utilizar a mais cara de todas! Difícil entender por que alguém aceita pagar juros de 15% ao mês quando poderia pagar a metade.

    Se você se identificou com pelo menos uma das formas de desperdiçar dinheiro, repense. Mude seus hábitos, pare de enriquecer os outros e dedique mais cuidado e atenção às suas finanças.

    marcia dessen

    É planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'. Escreve às segundas.

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