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    Marcius Melhem

    Secretário de cultura do Estado do Rio distribui cargos em vez de cultura

    13/08/2017 02h00

    Debora Gonzales/Editoria de Arte
    Débora 13.ago.2017

    O secretário de Cultura do Estado Rio de Janeiro, André Lazaroni, parece ter entendido errado a missão de sua secretaria: sim, o objetivo de um órgão cultural é justamente distribuir cultura. Mas não entre os seus amigos. Aos poucos, o generoso Lazaroni vem dando um cargo pra cada candidato a vereador derrotado nas eleições do ano passado.

    O Teatro Armando Gonzaga foi, por exemplo, para um empresário que nunca administrou um espaço cultural na vida; um quadro do PMDB foi para a gestão da Sala Cecília Meireles; outro do PRP de Belford Roxo ganhou uma diretoria da Funarj, e por aí vai na Casa França-Brasil, no Parque Lage...

    Poderia citar ainda muitos organismos culturais do Estado em que políticos derrotados ano passado ganharam uma chance de trabalhar no que nunca fizeram.

    Mas destaco aqui a Rádio Roquette Pinto. Nos últimos oito anos, a produtora cultural Eliana Caruso imprimiu ali uma marca de qualidade e pluralidade. Sua audiência não ficava atrás de outras emissoras públicas e a programação, além da alta categoria, não estava a serviço político de nenhum governo.

    Mas Lazaroni precisava da presidência da rádio para o candidato derrotado a vereador no ano passado Newton Fernando Ribeiro, o Cabeção. Enquanto na Roquette Pinto programas de qualidade estão sendo cancelados e a programação vai sendo desmontada, políticos vão ganhando sua boquinha com o loteamento da cultura entre os amigos e correligionários do secretário.

    Dias atrás, Lazaroni se reuniu com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab. Foi alterar um convênio de 2013, que previa uma verba de R$ 8 milhões para a criação de um laboratório de produção digital na capital do Rio.

    Na proposta do sempre generoso Lazaroni, em vez de gastar toda a verba em um laboratório, seriam construídos laboratórios mais baratos em cinco municípios para "democratizar" a verba. Talvez tenha resolvido copiar o conceito dos estádios da Copa do Mundo, que o governo brasileiro resolveu "democratizar" e espalhar por vários Estados.

    Hoje estão aí esses elefantes brancos, monumentos do desperdício e da politicagem. Lazaroni parece ter achado uma iniciativa a copiar.

    Questionado sobre seus intermináveis agrados aos políticos amigos, Lazaroni disse em sua defesa que "é preciso evitar a criminalização da política". Concordo. Mas ele já avisou isso aos políticos?

    marcius melhem

    Escreveu até novembro de 2017

    Marcius Melhem é ator e humorista brasileiro. Ele é roteirista do 'Zorra' e do 'Tá no Ar' e autor de peças de teatro.

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