RIO DE JANEIRO - Sediar megaeventos esportivos implica entrar no radar da imprensa mundial e, no caso do Rio, que vem recebendo atenção crescente desde o Pan-2007, isso significa ver suas favelas cada vez mais destacadas –não à toa, já que são lar de quase um quarto da população carioca.
Tal aumento de atenção, no entanto, não tem se traduzido em redução de estereótipos: para a mídia estrangeira, favela continua sendo mais frequentemente associada a violência, drogas e criminalidade.
Essa conclusão aparece no estudo "Favelas in the Media", feito pela ONG internacional Comunidades Catalisadoras, baseada no Rio, e divulgado no final de julho.
A pesquisa analisou 329 textos publicados em seis dos principais jornais de língua inglesa –do "The New York Times" ao "Daily Mail"– e em seus sites, entre outubro de 2009 (quando o Rio foi escolhido para sediar a Olimpíada) e setembro de 2014.
O aumento do interesse jornalístico estrangeiro pelas favelas teve alguns efeitos positivos: seus moradores passaram a ganhar muito mais espaço nas reportagens e as comunidades passaram a ser tema central dos textos, não apenas uma referência inserida sem contexto a cada vez que se escreve sobre o Rio.
Os estereótipos negativos persistem, porém, assim como as generalizações: mais da metade dos textos não especifica a região em que se localiza a favela noticiada, como se as comunidades da rica zona sul tivessem a mesma dinâmica daquelas das zonas oeste ou norte.
A dúvida que fica: estaremos fazendo um trabalho muito melhor aqui no Brasil?
Naturalmente há mais cobertura jornalística e, com isso, mais espaço para textos que fogem dos estereótipos. Mas, na média, as favelas cariocas aparecem mais bem representadas nos jornais nacionais? Difícil dizer que sim.
Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.