RIO DE JANEIRO - Que o Rio trata mal sua imensa baía de Guanabara, poluindo-a até torná-la inviável para banhos, vida marinha ou competições esportivas, é fato amplamente noticiado.
Mas há outra forma de descaso com a Guanabara menos comentada: o subaproveitamento de suas águas como via de transporte.
Além da capital, que tem dois bairros-ilha na baía –um deles abrigando o aeroporto internacional–, outros seis municípios da região metropolitana são ligados a ela.
Diariamente, milhões de pessoas se deslocam desses locais rumo ao centro do Rio, que é margeado pela Guanabara. A imensa maioria vai por terra, pois há apenas quatro linhas de barca.
Estudo da Firjan mostrou que haveria demanda suficiente para viabilizar economicamente outras 11 ligações aquáticas, entre elas algumas cuja obviedade salta aos olhos, como a conexão marítima entre o Galeão e o centro.
As notícias desta semana, no entanto, foram na contramão do desejável: a concessionária CCR Barcas informou ao governo do Rio que não tem mais interesse em continuar operando as quatro linhas, apesar de ter contrato para fazê-lo até 2023.
É o terceiro grupo a abandonar o barco desde que se iniciou a concessão do transporte aquaviário no Rio, em 1998. A CCR afirma ter tido prejuízo de mais de R$ 154 milhões com as barcas nos últimos três anos e clama por aumento de tarifas, que custam R$ 5 e R$ 13,90 atualmente, dependendo do trajeto.
O governo do Estado ainda não sabe como resolver o problema; prometeu nova licitação, em data e modelo ainda incertos, e afirmou que não haverá "qualquer ônus à população".
Da CCR, que não vai deixar saudade nos usuários, espera-se ao menos que se despeça pagando as multas milionárias que levou nos últimos anos, pelos maus serviços prestados.
Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.