RIO DE JANEIRO - É de se supor que, antes de decidir o candidato que apoiaria na disputa por sua sucessão, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) tenha se informado sobre eventuais lapsos no currículo do escolhido.
Nesse cenário, o que teria passado pela cabeça do alcaide carioca ao saber que Pedro Paulo Carvalho, secretário-executivo de seu governo e nome selecionado para disputar a prefeitura em 2016, tinha contra si uma acusação documentada de agressão a sua ex-mulher, em 2010?
Fora o depoimento da vítima à polícia, narrando a surra que tomou e tendo como testemunha uma babá, há também um laudo do Instituto Médico Legal que registra as marcas das agressões no corpo dela –olho roxo, dente quebrado etc. O caso gerou um inquérito que ainda não virou processo.
Dado que Paes seguiu em frente com o projeto de eleger seu escolhido, deduz-se que achou que esta acusação de crime continuaria escondida –ou, pior, que seria um problema contornável caso vazasse para a imprensa, como aconteceu.
"É um tema da vida privada, já superado e esclarecido, que não atrapalha a candidatura", afirmou o prefeito sobre o caso. O "esclarecido" refere-se a um suposto desmentido que a vítima teria feito, contra todas as evidências.
Paes equivoca-se ao achar que o tema está "superado" e que seria algo de foro íntimo: não é, nem juridicamente –é o tipo de crime que demanda ação penal pública incondicionada.
Mas quem vai convencer o prefeito de que apoiar um candidato desses é errado? Em recente inauguração, Paes disse aos cidadãos: "Está aqui o futuro prefeito do Rio, Pedro Paulo. Até que a Justiça Eleitoral me impeça, vou mesmo continuar pedindo votos".
Tendo em vista o histórico de seu candidato, Paes deveria estar mais preocupado com a Justiça Comum.
Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.