RIO DE JANEIRO - Desde a primeira noite de 2014, as ruas da Lapa, o célebre bairro boêmio carioca, são patrulhadas por agentes da Operação Lapa Presente, lançada pelo governo do Estado "com o objetivo de garantir a segurança e o direito de ir e vir dos moradores e frequentadores da região".
Como bem sabe quem circula por ali, a iniciativa era de fato necessária e seu objetivo principal, dar clima de segurança à área, parece estar sendo alcançado em alguma medida.
Mas os dados insistentemente divulgados pelo governo mostram que a operação talvez tenha um problema de foco: em dois anos e dois meses de ação, até a última quarta (9), 4.732 pessoas haviam sido presas pelos agentes da Lapa Presente –destas, apenas 312 por roubo, 147 por tráfico e 115 por porte de arma.
A maioria dos presos, 3.025 pessoas (64% do total), foi levada por posse ou uso de entorpecentes. São quase quatro usuários detidos a cada noite, um trabalho discutível tanto em princípio quanto em eficácia.
Além deles, os 135 agentes da operação (76 PMs e 59 civis) parecem ter se especializado em mendigos: desde o início das atividades, já foram "20.900 ações de acolhimento a moradores de rua", no relato do governo; são 26 "acolhidos" a cada noite, o que indica que o trabalho equivale a enxugar gelo.
A operação também padece da limitação de tempo –opera de domingo a quinta, das 19h às 3h, e às sextas e sábados, das 21h30 às 5h30– e de espaço: basta se deslocar poucos metros além da área de ronda dos agentes, ou nos horários em que eles não estão presentes, e a insegurança volta a ser regra.
Se a maior parte do trabalho resume-se a caçar mendigos e maconheiros, recomenda-se uma revisão das prioridades e uma distribuição mais racional dos esforços. Não está faltando o que fazer.
Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.