RIO DE JANEIRO - Depois de ter sua inauguração adiada duas vezes —situação corriqueira em obras cariocas —, o novo bonde elétrico do Rio, conhecido como VLT, parou de funcionar em seu primeiro dia útil de circulação, nesta segunda (6).
Isso apesar de estar operando em esquema limitado, por apenas três horas e num trajeto curto. E de ter custo total de R$ 1,7 bilhão. A prefeitura "esclareceu" que, "nesta etapa, novos eventos podem ocorrer, pois a fase é de adaptação".
De fato, nas administrações de Eduardo Paes (PMDB) na prefeitura e da dupla Cabral/Pezão (PMDB) no governo, que transformaram a cidade em um imenso canteiro de obras a reboque dos grandes eventos esportivos, "novos eventos" acontecem com uma frequência assustadora.
No dia seguinte ao fiasco do bonde, o asfalto do novo elevado do Joá -obra de R$ 458 milhões, inaugurada há menos de duas semanas- começou a esfarelar, abrindo buracos na pista. "É inaceitável que isso aconteça. Tem que cobrar, se paga uma fortuna nessas obras", disse o prefeito, numa atitude quase esquizofrênica.
O Joá foi construído pela já infame Odebrecht, que também está entre os principais investidores do VLT, ao lado de CCR e Invepar.
Há menos de dois meses, um trecho da então recém-inaugurada ciclovia da avenida Niemeyer (R$ 44,7 milhões) despencou depois de ser atingido por ondas, matando duas pessoas. A investigação mostrou o óbvio, que a obra foi mal executada (pelo grupo Concremat) e mal fiscalizada -de novo, situação corriqueira.
Retrocedendo a 2013, temos o caso da Via Binário, uma das principais novas artérias do Porto Maravilha, que estreou sem sistema de drenagem e virou um rio na primeira chuva. A lista prossegue, interminável.
Impossível não lembrar de Caetano e sua muito citada "Fora da Ordem": "Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína".
Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.