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    Marco Aurélio Canônico

    Beltrame deixa segurança do Rio com sensação de ter enxugado gelo

    13/10/2016 02h00

    Antonio Cruz/Agência Brasil
    O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, é recebido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (Antonio Cruz/Agência Brasil) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Rio, deixa cargo depois de quase dez anos

    RIO DE JANEIRO - O mais longevo dos enxugadores de gelo do Rio despede-se da função nesta semana. José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Estado por quase uma década, deixa o cargo vendo a maior marca de sua gestão, as Unidades de Polícia Pacificadora, desmoronar.

    Com as UPPs, Beltrame colocou em prática uma ideia conceitualmente simples, mas de difícil execução: a polícia precisava se aproximar dos moradores e do cotidiano das favelas, em vez de entrar nelas só para impor medo e trocar tiros com bandidos. Mas o resto do Estado precisava subir o morro também. Se a única face visível do poder público nas comunidades fosse a policial, jamais haveria paz duradoura.

    Beltrame sempre soube que o sucesso das UPPs como força de ocupação militar teria duração limitada. E ela expirou. Não apenas por conta da calamidade financeira em que o PMDB jogou o Rio, mas por uma falha de execução do projeto. Porque os governantes se preocuparam mais em levar teleféricos do que saneamento às favelas.

    É difícil evitar o desânimo ao ver que a melhor oportunidade que a cidade já teve para controlar a violência não durou nem uma década. Beltrame superou seus antecessores em longevidade porque teve condições para trabalhar como ninguém antes dele, e aproveitou-as com inteligência. Mas se despede do cargo em baixa como os demais.

    Parabéns, secretário. O senhor foi o mais eficiente dos dublês de Sísifo que o Rio já teve. Por alguns anos, chegou mesmo a convencer ao menos parte da sociedade de que seu plano lograria êxito.

    Mas jamais haverá pacificação sem que se trate seriamente da inclusão social. Sem que se admita o fracasso da guerra às drogas como executada até hoje. E sem que se garanta à polícia formação e remuneração dignas.

    marco aurélio canônico

    Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
    Escreve às quintas.

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