RIO DE JANEIRO - Confirmando o que todos os viventes sentem, cientistas anunciaram nesta quarta (18) que a Terra teve em 2016 seu terceiro ano seguido de recorde na alta da temperatura —tal sucessão foi uma marca inédita por si só.

Cariocas, em particular, convivem com a realidade do aquecimento global de perto. Os dez primeiros dias de janeiro no Rio tiveram sensação térmica acima de 40ºC. Além do clima infernal, já houve o outro desdobramento típico: um temporal medonho que alagou e causou destruição em quase todos os bairros.

A outra consequência inevitável do acaloramento generalizado, o aumento do nível do mar, também promete ser sinistra para o Rio, cidade costeira e cheia de aterros. Por fim, numa terrível ironia, a economia do Estado parece ser totalmente dependente da produção de petróleo, combustível que não pode ter futuro, se quisermos ter um.

O mais aviltante no caso do aquecimento global é o fato de que ele é um problema diagnosticado e comprovado cientificamente há anos. As ações necessárias para atenuá-lo já foram discutidas e apresentadas, mas o avanço nas soluções têm sido lento.

Essa incapacidade de admitir problemas já identificados e de dar-lhes respostas adequadas também é bem conhecida dos cariocas. Vide a violência, que voltou a subir descontroladamente, como previsto —ainda na metade do primeiro mês do ano, já tivemos 11 policiais civis ou militares mortos, três assaltos a shoppings com tiroteios e arrastões a rodo.

Caso semelhante de incompetência para enxergar o óbvio aconteceu com o prefeito Marcelo Crivella, que exonerou o delegado e a equipe responsável pela fiscalização das vans. Ato contínuo, os piratas —principal fonte de lucro das milícias— voltaram a circular pelo Rio. Menos mal que a medida foi revista antes que a chapa esquentasse.

marco aurélio canônico

Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.

• marco.canonico@grupofolha.com.br