RIO DE JANEIRO - Sem aviso prévio, o Rio perdeu nesta quarta (1º) uma das poucas rádios que interessavam a quem gosta de música brasileira em suas mais variadas vertentes: a MPB FM.
A programação foi interrompida no primeiro minuto do dia. Ironicamente, a última canção executada foi uma versão de Zeca Pagodinho para "Quem te Viu, Quem te Vê", de Chico Buarque: "Quem não a conhece não pode mais ver pra crer/ Quem jamais a esquece não pode reconhecer". Assim como a rádio, ela foi interrompida abruptamente, antes de acabar.
Susto maior que o dos ouvintes, só mesmo o dos funcionários, que ficaram sabendo na tarde de quarta que não teriam mais emprego a partir desta quinta (2). O Grupo Bandeirantes, dono da emissora, disse apenas que se tratou de uma "decisão estratégica". O espaço da MPB FM no dial passou a ser ocupado pela BandNews, agora duplicada.
Dedicada exclusivamente à música popular brasileira, a rádio se destacava por não veicular apenas a produção mais comercial e massificada, abrindo espaço para artistas iniciantes, desconhecidos e esquecidos. Também os recebia para que falassem sobre seus trabalhos e carreiras, coisa rara de se encontrar nas FMs.
Veiculava ainda shows ao vivo entremeados por bate-papo com os músicos, no programa Palco MPB, apresentado por Fernando Mansur. Apesar de circunscrita aos sons nacionais, abarcava imensa variedade de gêneros, do samba ao rock.
Para os ouvintes cariocas que fogem dos jabás, restou basicamente a rádio Roquette Pinto (94.1 FM). Estadual, ela ratifica a importância de ter veículos que não dependam de publicidade privada, abrindo espaço para sons alternativos de modo ainda mais radical que a finada MPB.
Agora, só sobrou ela. E do jeito que vai o governo Pezão, não se sabe até quando.
Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.