RIO DE JANEIRO - "Os carros alegóricos são ainda transportados em chassis de caminhões e ônibus, os mesmos usados na década de 1970. Tudo é muito bonito, mas o sistema é da idade da pedra."

A frase é do carnavalesco Paulo Barros, o maior vencedor desta década na Sapucaí, que com méritos tirou a Portela da fila, tornando-a campeã neste ano. Foi dita em entrevista ao jornal "Valor", pouco antes dos desfiles mostrarem na prática os efeitos da precariedade que ele denunciava.

Quem acompanha o Carnaval carioca de dentro da passarela planejada por Oscar Niemeyer sabe o quanto há de mambembe e arcaico naquele espetáculo. Por mais que haja muito planejamento, ensaio e trabalho duro, são as gambiarras que imperam na avenida, em todos os níveis —desde os ajustes das fantasias até os carros alegóricos.

Aquelas alegorias gigantes que impressionam quando vistas das arquibancadas, nas fotos ou pela TV, revelam toda sua precariedade quando observadas de perto. A insegurança que se materializou nos dois trágicos acidentes deste ano é velha conhecida dos sambistas, dos organizadores, dos jornalistas e do poder público. Ainda assim, pouco foi feito para evitar que essa desgraça acontecesse.

Não existe outro evento desta magnitude, que movimenta milhões de reais e dezenas de milhares de pessoas, com tão pouco controle e segurança. Em que outro lugar um atropelamento e fuga, como fez o carro da Tuiuti, seria incentivado? Onde mais um carro quebraria, ferindo 20 pessoas, e continuaria a desfilar com gente em cima, como se deu com a Tijuca?

Dado esse cenário, não espanta a vergonhosa decisão da Liga das Escolas de Samba de perdoar as escolas, salvando-as do rebaixamento. No Carnaval da gambiarra e dos poderosos interesses, só quem cai são os integrantes.

marco aurélio canônico

Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.

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