RIO DE JANEIRO - Brasília experimentou, na tarde desta quarta (24), o mesmo clima de tensão e caos que o Rio vem vivendo há mais de um ano por conta de protestos motivados pela falência moral e econômica dos governos do PMDB —tanto o do Estado quanto o federal.

Uma manifestação contra Michel Temer e as reformas trabalhista e da Previdência, que ele tenta aprovar como se tivesse legitimidade para isso, acabou com o Congresso cercado, ministérios depredados e muitos manifestantes feridos.

Pezão e os cariocas conhecem bem esse cenário, que voltou a se repetir na cidade na mesma hora em que a capital federal ardia. O protesto no Rio sitiou novamente a Assembleia Legislativa, onde se votava o aumento da contribuição previdenciária dos servidores, uma das condições para que o Estado receba o pacote de ajuda federal.

Aqui, como lá, viu-se outra vez uma polícia pouco preparada para lidar com a minoria de manifestantes que recorre à violência. A PM não pode superar a truculência que enfrenta, mas fez exatamente isso, com reações desproporcionais que só pioraram a situação, além de ferir inocentes.

Numa temerária demonstração de indiferença, tanto o Congresso quanto a Alerj tentaram continuar seus trabalhos como se nada estivesse acontecendo do lado de fora. O que só reforça a nociva antipatia e suspeição que pairam sobre toda a classe política atualmente.

Por fim, na mais preocupante das similaridades entre as duas cidades, o presidente recorreu às Forças Armadas para a "garantia da lei e da ordem" —o mesmo mecanismo que o Rio já viu em ação inúmeras vezes, mas sempre com a intenção de conter a criminalidade do tráfico.

Que Michel Temer tenha apelado aos militares para conter cidadãos que se opõem a seu governo é um marco gravíssimo de perda de comando.

marco aurélio canônico

Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.

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