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    Marco Aurélio Canônico

    Mega-arrastão no centro foi uma aula de Rio de Janeiro em uma noite

    01/06/2017 02h00

    Reprodução/TV Globo
    Loja destruída após arrastão durante a madrugada na Central do Brasil
    Loja destruída após arrastão durante a madrugada na Central do Brasil, no Rio de Janeiro

    RIO DE JANEIRO - Na semana passada houve um arrastão no Centro do Rio, durante a madrugada, que exemplificou perfeitamente o estado atual de desgoverno e insegurança da cidade.

    Cerca de 40 criminosos vindos do morro da Providência —onde há uma Unidade de Polícia Pacificadora— saquearam mais de dez lojas numa rua a poucos metros da Secretaria de Segurança, do Comando Militar do Leste e de uma delegacia.

    Fizeram-no com tal tranquilidade que passaram mais de duas horas nessa ação, valendo-se de dois caminhões para fechar a rua e carregar os produtos pilhados. O alarme das lojas foi acionado e uma patrulha da PM apareceu, mas não pôde com os criminosos, armados com fuzis. Saiu atrás de reforços, que só chegaram horas depois.

    O roubo foi uma demonstração de força do tráfico, que está buscando expandir sua fonte de lucro por meio da cobrança de uma "taxa de segurança" dos comerciantes -tática mais associada às milícias. Como os lojistas se recusavam a pagar, os traficantes da Providência mostraram na prática que, sem acordo com eles, não há segurança para a região.

    Nem mesmo proteção privada é solução, como mostra o episódio mais incrível dessa história, revelado pelo site G1: o segurança de uma das lojas chegou para trabalhar na madrugada e topou com o saque generalizado.

    Negro, armado, sozinho contra um "bonde" de dezenas numa rua escura, não teve dúvida: ou se misturava à turba ou poderia ser confundido com um policial. Assim o fez, passando por ladrão para sobreviver, como contou a seu patrão.

    Traficantes de um morro "pacificado" fazem um mega-arrastão de horas para punir comerciantes que não lhes pagavam caixinha, a polícia não impõe resistência e um segurança privado finge ser ladrão para não morrer. Eis aí uma aula de Rio de Janeiro numa única noite.

    marco aurélio canônico

    Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
    Escreve às quintas.

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