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    Marco Aurélio Canônico

    Encontro de Paulinho da Viola e Marisa Monte redime um país em crise

    15/06/2017 02h00

    João Luis Soares/Divulgação
    Paulinho da Viola e Marisa Monte dividem o palco em shows em SP *** ****
    Os cantores Paulinho da Viola e Marisa Monte

    RIO DE JANEIRO - Projetos que reúnem grandes artistas costumam gerar expectativas imensas, não raro frustradas. Foi sob o peso delas que Paulinho da Viola e Marisa Monte fizeram uma curta série de sete show—três em São Paulo, um em Belo Horizonte e três no Rio—, encerrada no último domingo (11).

    O que se viu no palco foi um encontro histórico que correspondeu ao que se esperava. Dois dos mais elegantes artistas do país, em forma sublime, honrando a melhor tradição da música popular brasileira e, em particular, do samba carioca.

    Quem assistiu à dupla cantando a hoje centenária "Carinhoso" (de Pixinguinha e João de Barro) no documentário sobre Paulinho ("Meu Tempo É Hoje") pode ter uma ideia do que foi vê-los interpretá-la ao vivo.

    É impossível exagerar a elegância de Paulinho –sua voz, seu modo de tocar e de cantar, seu figurino, suas composições, tudo exala uma altivez e um senso de tradição que remetem aos bambas com quem aprendeu a fazer música. Marisa, igualmente reconhecida por sua finesse, mostrou-se em excelente forma vocal, como há anos não se via.

    O contraste entre as vozes —a de Paulinho, grave e baixa, e a de Marisa, aguda e alta— cria uma dinâmica agradável nas canções em que dialogam, como "Sinal Fechado", um dos muitos clássicos dele presentes no concerto. A dupla se complementou também nos gestos em cena: ele, discreto; ela, expansiva.

    Marisa sempre foi tributária de Paulinho —e ambos, da Velha Guarda da Portela. Boa parte do show é dedicada ao repertório da escola. Só a sequência com "Quantas lágrimas" (Manacéa), "Sofrimento de Quem Ama" (Alberto Lonato), "Preciso me Encontrar" (Candeia) e "Foi um Rio que Passou em Minha Vida" (Paulinho da Viola) já justificaria o encontro.

    Em meio a uma temporada tão nefasta, especialmente no Rio, foi um alento poder testemunhar a beleza da arte que este país é capaz de produzir.

    marco aurélio canônico

    Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
    Escreve às quintas.

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