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    Marco Aurélio Canônico

    Não há santos na briga entre Crivella e a liga das escolas de samba

    22/06/2017 02h00

    Alex Ribeiro-1°.jan.2017/Folhapress
    Marcelo Crivella durante discurso ao tomar posse do cargo na Câmara Municipal
    Marcelo Crivella durante discurso ao tomar posse do cargo na Câmara Municipal

    RIO DE JANEIRO - É difícil escolher um lado na disputa entre o prefeito Marcelo Crivella (PRB) e a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), tema que vem galvanizando o Rio desde que o governante anunciou uma redução de 50% na verba destinada às agremiações.

    Não há dúvida de que o bispo eleito tem antipatia pela maior festa da cultura popular, como ficou demonstrado neste Carnaval. Há bons motivos para desconfiar de que esse desgosto é de cunho religioso, o que tornaria seu comportamento incompatível com a laicidade exigida pelo cargo.

    Após menosprezar o Carnaval e suas tradições, Crivella não tem moral para convencer a população de que a redução do subsídio é mero rearranjo orçamentário. Mas que moral tem a Liesa, notório reduto de contraventores, para se insurgir? Ainda mais depois do trágico e irresponsável desfile deste ano, com dois acidentes graves que deixaram uma morta, vários feridos e nenhuma punição.

    Acima de tudo, é difícil tomar partido porque há pouca transparência de ambas as partes. Quem sabe quanto a Liesa gasta e quanto lucra com os desfiles? Quem é capaz de atestar que os R$ 2 milhões que a prefeitura repassou a cada escola do grupo especial neste ano foram gastos adequadamente? Sem esse tipo de dado, é impossível fazer uma discussão objetiva.

    A ameaça da Liesa de suspender os desfiles de 2018 é risível. Com o orçamento de cada escola girando entre R$ 6,5 milhões e R$ 10 milhões, é complicado argumentar que R$ 1 milhão a menos inviabiliza os trabalhos. Se a liga tornou-se dependente de dinheiro público a esse ponto, é sinal de muita incompetência.

    Dado que não há santos nesse embate, Crivella faria melhor em não cortar a verba dos desfiles agora, dando uma espécie de aviso prévio e aproveitando para impor mais controle público, exigindo transparência e melhor gestão.

    marco aurélio canônico

    Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
    Escreve às quintas.

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