• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 05:52:21 -03
    Marco Aurélio Canônico

    Fuzil em estátua de Michael Jackson simboliza retrocesso de 20 anos

    17/08/2017 02h00

    Reprodução
    Rio de Janeiro, RJ,Brasil estatua da Michael Jackson com um fuzil pendurado no morro Dona Marta. Foto: Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Estátua de Michael Jackson com um fuzil pendurado no morro Dona Marta, no Rio de Janeiro

    RIO DE JANEIRO - Foi há mais de 20 anos, em fevereiro de 1996, que Michael Jackson desceu de helicóptero no morro Dona Marta, em Botafogo, zona sul do Rio, para gravar parte do videoclipe de "They Don't Care about Us", sob a direção de Spike Lee.

    Com uma letra que fala de brutalidade policial e indiferença governamental e que evoca Martin Luther King, não é difícil entender a escolha da favela carioca —e do Pelourinho, em Salvador, onde outra parte do vídeo foi filmada.

    Segundo conta Caco Barcellos no excelente livro "Abusado", quando MJ chegou havia uma faixa com uma saudação em inglês, colocada a mando do dono do morro: "Bem-vindo ao mundo... não a um mundo maravilhoso, mas ao mundo humilde dos pobres".

    Os mandatários tucanos da época não gostaram da ideia: Marcelo Allencar, então governador, e Pelé, ministro dos Esportes de FHC, fizeram campanha contra a filmagem, alegando que a exposição da pobreza afetaria a imagem do país no exterior. Um juiz carioca chegou a dar uma liminar proibindo a gravação.

    Nesta semana, foi divulgada uma foto que mostra um fuzil pendurado na estátua que Michael Jackson ganhou no morro em 2010, um ano após sua morte. Isso sim é um retrato muito mais poderoso do fracasso de sucessivos governos federais e estaduais.

    O Dona Marta foi um símbolo da política de segurança do Rio —lá foi instalada a primeira das Unidades de Polícia Pacificadora, em 2008. Duas décadas depois do clipe, se alguém quiser gravar um vídeo na favela, provavelmente terá de pedir autorização ao dono do morro, como a equipe de Jackson fez à época.

    O refrão da música, "eles não ligam pra gente", continua valendo no Dona Marta, assim como no Jacarezinho, em Manguinhos e em tantas comunidades que seguem largadas à própria sorte.

    marco aurélio canônico

    Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
    Escreve às quintas.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024