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    Marco Aurélio Canônico

    Censura ao funk carioca é na base do tiro, porrada e bomba

    12/10/2017 02h00

    Reuters
    Três pessoas morrem baleadas em baile funk na Zona Sul de São Paulo
    A funkeira Tati Quebra Barraco durante show

    RIO DE JANEIRO - A classe artística que ora se mobiliza para protestar contra a censura a exposições, peças e outras manifestações culturais poderia abrir um pouco mais o leque para incluir um gênero que vem sendo censurado há mais tempo e com mais vigor: o funk carioca.

    Como aconteceu com outros ritmos negros de periferia —notoriamente, o samba—, o funk foi discriminado desde sua origem. Os próprios sambistas protestaram quando ele passou a ser a expressão preferencial da juventude das favelas. Viam-no como uma música menor e temiam pela falta de renovação no samba —o que não aconteceu; ao contrário, os dois gêneros se encontraram, não raro com bons resultados.

    Quando o funk desceu o morro rumo às boates da elite, festas de casamento e de aniversário, programas de TV e de rádio, quem reagiu foi a mesma turma que atualmente mira as exposições. Acusaram-no de pornográfico, de criminoso, exatamente como fazem agora com quadros e performances.

    Mas a censura ao funk foi muito pior, porque não se restringiu a conservadores e moralistas indignados. Ela veio armada, por meio dos PMs que atuam em comunidades. Desde a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, sucederam-se relatos de proibição de bailes. Quem decidia se eles podiam acontecer ou não eram os comandantes das UPPs —e isso foi aceito passivamente pela população do asfalto, em nome da "pacificação" cujos resultados se veem hoje.

    Em muitas favelas, não há nem sequer diálogo: vídeos e fotos postados em redes sociais mostram "caveirões" da PM destruindo equipamentos de som e acabando com as festas. Tiros e granadas também são usados. Só nos últimos seis meses houve ao menos cinco casos desses, segundo registro do Defezap, projeto on-line que recebe denúncias de violência policial.

    marco aurélio canônico

    Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
    Escreve às quintas.

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