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    Marco Aurélio Canônico

    De graça, não vale

    09/11/2017 02h00

    Rafael Andrade-20.ago.2007/Folhapress
    O governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, aguarda sua vez de falar durante evento na Federacao das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) para o seminário Mapa do Desenvolvimento, no centro do Rio de Janeiro. (Rio de Janeiro (RJ). 20.08.2007. Foto de Rafael Andrade/Folhapress)
    O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que hoje está preso

    RIO DE JANEIRO - Na última eleição de Sérgio Cabral, em 2010, quando ele se reelegeu governador do Rio no primeiro turno, Ziraldo se ofereceu para criar gratuitamente a logomarca do governo. Amigo de seu pai, com quem fundara "O Pasquim", o artista conhecia "Serginho" desde o nascimento.

    Assim como a maioria da população fluminense, se empolgara com o primeiro mandato do governador. A afeição que tinha pela família Cabral o levou a oferecer o presente. "Fiz um negócio caprichadíssimo, mandei imprimir as camisetas e tudo mais", diz Ziraldo.

    A essa altura, no entanto, Serginho já não era mais o garoto simples do subúrbio de Cavalcanti, criado em meio à boêmia das rodas de samba que seu pai cultivava. Havia se aproximado dos ricos e poderosos, estava na fase das joias, iate de R$ 5 milhões, viagens de helicóptero oficial para a mansão em Mangaratiba.

    "Ele não usou a marca que eu fiz para ele. Uma agência fez outra, mas, se eu ia dar uma, por que ele foi fazer com agência?", questiona Ziraldo. "Eu descobri o porquê: uma marca é boa para lavar dinheiro. Você pode cobrar por ela o preço que quiser."

    Bingo. Como mostra a delação premiada do marqueteiro Renato Pereira, revelada pelo repórter Thiago Herdy, do jornal "O Globo", a agência de publicidade que cuidou de todas as campanhas do PMDB fluminense desde 2010 foi o canal para receber e escoar propina.

    Malas de dinheiro vindas de fornecedores dos governos estadual e municipal —como Andrade Gutierrez, Odebrecht e as empresas de Jacob Barata— bancaram os milionários caixas dois das campanhas. Licitações de publicidade foram dirigidas, e os vencedores compartilhavam parte do lucro dos contratos. Havia ainda um "mensalinho" para 11 nomes ligados ao governador, desde seu irmão até subsecretários.

    O grande descobrimento deste Cabral, como disse Ziraldo, foi que "era muito fácil roubar": "Onde ele podia se meter para ganhar dinheiro, se meteu".

    marco aurélio canônico

    Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
    Escreve às quintas.

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