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    Marcos Jank

    A 'nova rota da seda' e o Brasil

    02/05/2015 02h00

    Mais de dois milênios após o seu surgimento, a grande novidade da China é o projeto da "nova rota da seda". Chamada de "One Belt, One Road" (um cinturão, uma estrada), a iniciativa foi apresentada em março pelo líder Xi Jinping no Fórum Econômico de Boao.

    A China pretende redesenhar a ordem econômica e política da região criando um corredor de investimentos em infraestrutura que vai interligar as grandes cidades ao longo das antigas rotas de especiarias.
    Pelo lado terrestre, a rota irá da China para a Ásia Central, a Rússia e o sul da Europa.

    Pelo lado marítimo, ela ligará o Sudeste Asiático, o oceano Índico, o leste da África e o golfo Pérsico, até o canal de Suez.

    Duas grandes iniciativas que somam quase US$ 100 bilhões foram lançadas: o AIIB (Banco de Investimentos e Infraestrutura da Ásia), que já atraiu 47 países interessados, apesar da forte oposição dos EUA, e o Fundo da Rota da Seda.

    A rota tradicional da seda nunca chegou às Américas, mas as grandes navegações, sim. Foi em busca de novos caminhos para o Oriente que espanhóis e portugueses desembarcaram no hemisfério Ocidental. Hoje o principal excedente de especiarias do século 21 –minerais e produtos agropecuários– está bem mais a oeste da roda da seda, e a Ásia como um todo precisa dele.

    As importações chinesas de produtos agropecuários e alimentos mais do que duplicaram nos últimos cinco anos, ao passar de US$ 47 bilhões para US$ 108 bilhões por ano. Quem lidera a exportação para
    a China são os EUA (US$ 30 bilhões) e o Brasil (US$ 22 bilhões), seguidos de Canadá, Argentina, Austrália e Nova Zelândia. A China tornou-se o primeiro mercado destino dos EUA e do Brasil, atingindo um quinto de suas exportações.

    O grande problema é que a China ainda pratica uma política comercial altamente seletiva e cirúrgica, pautada pela busca da autossuficiência. Quase 70% das importações chinesas no agronegócio concentram-se em um pequeno grupo de matérias-primas básicas –grãos e fibras–, para as quais a China abre exceção e facilita a entrada de produtos com tarifas baixas. Estamos falando basicamente de soja e milho para produzir rações para animais e algodão para a indústria têxtil.

    As oportunidades inexploradas entre Brasil e China são imensas, não apenas no campo do comércio mas também em investimentos, construção de parcerias estratégicas e projetos de cooperação e treinamento. Apenas no agronegócio, o vasto espaço de cooperação cobre infraestrutura e logística, biotecnologia, qualidade e sanidade dos alimentos, joint ventures e construção de cadeias produtivas integradas entre os dois países.

    Menos de um ano após a visita do líder Xi Jinping, em julho passado, o Brasil recebe de 18 a 20 deste mês o primeiro-ministro da China, Li Keqiang. É hora de aproveitar o bom momento das relações bilaterais para avançar concretamente na exploração das grandes oportunidades que a China e a nova rota econômica da seda podem oferecer para o Atlântico Sul.

    Sete séculos depois, é hora de reconstruir o caminho das especiarias de Marco Polo com inteligência e sofisticação, desta vez indo do Ocidente para o Oriente.

    marcos sawaya jank

    Especialista em questões globais do agronegócio. Vive em Cingapura.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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