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    Marcos Jank

    Geopolítica, países e empresas

    02/04/2016 02h00

    Não é só o Brasil que vive momentos de grande tensão, com a política influenciando fortemente a economia e gerando incerteza, paralisia e volatilidade.

    Apesar da percepção de que vivemos hoje em um mundo plano e interconectado, acessível a um toque no celular, as políticas e diferenças institucionais continuam exercendo papel central na organização dos negócios e na criação de expectativas.

    Geopolítica nada mais é do que a influência da geografia sobre os processos políticos, os quais impactam a economia e os negócios. Refiro-me aqui não apenas à geografia física mas também às geografias humana, econômica, social etc.

    Apesar da globalização, a geopolítica continua hoje tão ou mais ativa do que no passado. Exemplos de questões geopolíticas de grande impacto na atualidade são os atentados de Paris e Bruxelas e a corrente migratória em direção à Europa, o conflito Rússia-Ucrânia, as disputas no entorno da China (mar do Sul da China, Coreias, Japão, Taiwan), o risco Trump nos EUA e tantos outros.

    Pesquisa da McKinsey com grandes executivos do mundo corporativo mostra que a instabilidade geopolítica aparece em primeiro entre os cinco maiores riscos que afetam o crescimento econômico. Riscos políticos e regulatórios impactam fortemente os negócios, principalmente quando as empresas operam em diferentes ambientes institucionais.

    Tenho notado que empresas gastam muito tempo e energia tentando organizar seu ambiente e cultura interna, montando times que possam funcionar como orquestras bem afinadas. Mas, no geral, gastam pouco tempo tentando entender e atuar nas desarmonias externas. Além do ambiente interno, que costuma ser a prioridade, as empresas conhecem bem as cadeias produtivas, mercados e setores em que atuam.

    Mas têm grande dificuldade para lidar com o ambiente externo, que em geral não funciona tão bem quanto o interno. Além disso, raras são as empresas que entendem o que está acontecendo em outras geografias do planeta, marcadas por políticas e ambientes institucionais completamente diversos daquele com o qual estão acostumadas. Muda a função objetivo da empresa, muda a atuação dos governos, muda a forma como as pessoas se relacionam, muda a velocidade da negociação e da tomada de decisão, mudam os valores e as culturas.

    Por exemplo, quem sempre trabalhou em empresas tem dificuldade para entender a velocidade e o funcionamento dos governos, e vice-versa. Quando entram em cena diferentes geografias, culturas e ambientes institucionais, fica ainda mais difícil. E, quando a geopolítica influencia essa equação toda criando os seus caminhos e preferências, aí, sim, é que a coisa se complica de vez!

    Por mais que a empresa esteja capacitada e afinada, as variáveis externas podem criar ou destruir muito valor para ela.

    A crise aguda que o Brasil vive neste momento tem gerado desanimo e paralisia. Mas, como todo momento de crise é também um momento de oportunidade, deveríamos nos lembrar de que até aqui a nossa geografia mais ajuda do que atrapalha.

    Nossas fronteiras são estáveis e bem definidas, não temos conflitos com nossos vizinhos, ocupamos o 5º lugar em área e população, falando apenas um idioma e sem grandes diferenças étnicas e religiosas.

    Além disso, a combinação da ampla disponibilidade de recursos naturais com clima adequado, tecnologia e gente capacitada nos dá a oportunidade de trazer soluções concretas para questões que estão na base dos problemas geopolíticos da humanidade nas próximas décadas.

    marcos sawaya jank

    Especialista em questões globais do agronegócio. Vive em Cingapura.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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