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    Marcos Jank

    Setor de carnes é um dos raros em que o Brasil é referência global

    15/04/2017 02h00

    Eraldo Peres - 21.mar.17/Associated Press
    Workers prep poultry at the meatpacking company JBS, in Lapa, in the Brazilian state of Parana, Tuesday, March 21, 2017. Brazil's president said Tuesday that a scandal over sale of expired meat is an "economic embarrassment". On Tuesday, Hong Kong's Center for Food Safety announced that it would temporarily suspend imports of frozen and chilled meat and poultry from Brazil, starting immediately, in response to Brazilian investigators charges that health inspectors were bribed to overlook the sale of expired meats. (AP Photo/Eraldo Peres) ORG XMIT: XSI104
    Funcionários em unidade da JBS no Paraná

    A exportação brasileira de carnes cresceu 13% ao ano desde 2000 e atingiu US$ 14,4 bilhões em 2016. Ocupamos o 2º lugar no ranking mundial, exportando carne de aves para 160 países (1º do mundo), bovina para 138 países (2º lugar) e suína para 88 países (4º lugar).

    A exportação é volumosa e diversificada em produtos e destinos neste setor, sem dúvida um dos mais dinâmicos do agronegócio mundial. Se o Brasil sair do mercado mundial, haverá uma imediata escassez, que impactará a segurança alimentar de boa parte da população mundial.

    Os principais fatores que explicam o sucesso do Brasil nas proteínas animais são:

    Disponibilidade de milho e farelo de soja: principais componentes da ração usada para criar aves e suínos, esses dois itens respondem por mais da metade do custo de produção dos animais. A maioria dos países que produzem carne no mundo importa soja e/ou milho das Américas, o que encarece o seu custo de produção.

    Produtividade: genética avançada e uso de insumos modernos garantem elevadas conversões alimentares na produção de aves e suínos (kg de ração por kg de carne). No boi, o melhoramento de capins tropicais e do gado zebuíno (puro ou cruzado com raças europeias) gerou 143% de ganho de produtividade desde 1990.

    Status sanitário: o Brasil tem sido privilegiado pela ausência de graves epidemias que atingem a pecuária em outros continentes, como a influenza aviária, a doença de newcastle, a peste suína, a diarreia epidêmica porcina e a vaca louca.

    Coordenação da cadeia produtiva: exemplos notáveis de coordenação e eficiência da cadeia de carnes são:

    a) o sistema de integração lavoura-pecuária na produção primária de grãos e bovinos;

    b) a integração vertical entre pequenos produtores de suínos e aves e as indústrias processadoras, sejam elas privadas ou cooperativas;

    c) a amplitude e a eficiência da cadeia fria, que vai do processamento à geladeira dos consumidores no país e no exterior;

    d) a grande quantidade de auditorias, certificações e padrões privados que garantem qualidade, sanidade, rastreabilidade e bem-estar do animal.
    Vale destacar que a maior parte dos países importadores impõe rígidos sistemas de aprovação de cada unidade brasileira que quer exportar: acordo sanitário internacional, preenchimento de questionários e auditorias que vão habilitar e monitorar só uma parte das unidades.

    Esse processo é moroso e pouco transparente, repleto de travas sanitárias, técnicas e burocráticas, não raro sem base científica e previsibilidade. Nossos frigoríficos são constantemente inspecionados por técnicos e clientes dos países importadores: em 2016, só a JBS e a BRF receberam 550 auditorias do exterior.

    Curiosamente vários países que hoje restringem a carne brasileira não aplicam internamente os mesmos critérios exigidos nas importações. A realidade nua e crua de grande parte dos países em desenvolvimento é triste: abate de animais vivos em mercados molhados (chamados de "wet markets"), sujeira e contaminações por toda a parte, animais heterogêneos e sem controle sanitário de origem, trabalhadores descalços, sem camisa, luvas ou toucas de proteção, ausência de cadeia fria no mercado e nas casas.

    Padrão, sanidade, qualidade e cadeia fria infelizmente são a exceção, e não a regra, para a maior parte dos consumidores do planeta.

    O setor de proteínas animais é um dos raros segmentos da economia em que nos tornamos referência global, graças a exportações que agregam volume, qualidade, sanidade e preços acessíveis, além de boas perspectivas. Basta dizer que, enquanto a demanda mundial por alimentos aumentará 46% até 2050, a procura por proteínas animais crescerá 95%, mais que o dobro.

    marcos sawaya jank

    Especialista em questões globais do agronegócio. Vive em Cingapura.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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