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    Marcos Jank

    Fabio Chaddad explicou como ninguém o agronegócio brasileiro

    19/08/2017 02h00

    Julio Bittencourt - 14.set.09/Valor/Folhapress
    Data: 14.09.07 - Editoria: Agronegocios Local: Sao Paulo SP Assunto: Estudo sobre perdas no mercado de laranja em razao de disputas entre produtores e industrias na Justica. Fabio Chaddad, professor do Ibmec. Foto: Julio Bittencourt/Valor Reporter: Fernando Lopes ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
    Fabio Ribas Chaddad (1969-2016), autor de "Economia e Organização da Agricultura Brasileira"

    Na quinta-feira (17), o Insper organizou evento para lançar a edição em português do livro "Economia e Organização da Agricultura Brasileira", do professor Fabio Ribas Chaddad, e batizou uma das salas de aula da instituição com o seu nome.

    Em setembro passado, já muito debilitado por uma doença, mas com inacreditável energia e lucidez, Fabio veio ao Brasil para lançar a versão original do livro em inglês. Ele morreu logo depois, aos 47, em Missouri, onde lecionava estratégias, organizações e agronegócio.

    Fabio combinava características difíceis de serem encontradas em uma única pessoa: o rigor acadêmico, o ouvido sempre aberto e interessado nas pessoas e nas experiências do mundo real e uma invejável capacidade de síntese em inglês.

    Seu livro traz a melhor narrativa existente sobre a evolução do agronegócio brasileiro desde os anos 1970, uma experiência de sucesso infelizmente ainda pouco reconhecida no país e desconhecida no resto do mundo.

    Fabio desenvolve uma abordagem microanalítica em cima de estatísticas precisas, descrições factuais e estudos de caso para explicar como o Brasil se tornou uma potência no agronegócio mundial, com ganhos de produtividade total superiores a 3% ao ano no período, quase o dobro dos EUA e o triplo do mundo. Isso colocou o Brasil entre os cinco maiores produtores de 36 commodities de origem agropecuária.

    Fabio chama de "condições capacitadoras" os fatores de geração de competitividade mais conhecidos e citados:

    a) disponibilidade de recursos naturais (terra, água e clima);

    b) investimentos públicos e privados em tecnologias tropicais;

    e c) políticas públicas estratégicas, não só as que apoiaram diretamente o agro —crédito rural, preços mínimos, estoques reguladores e programas sociais— mas também, e principalmente, as que o libertaram das garras excessivas do governo: fim dos controles de preços, desregulamentação, liberalização e enfrentamento da concorrência global.

    Mas o lado mais inovador da obra é uma minuciosa descrição das formas organizacionais que marcaram a expansão do agro brasileiro e que talvez sejam os elementos mais sólidos para explicar os fortes ganhos de produtividade.

    Fabio mistura histórias individuais de empreendedores que desbravaram o Brasil com a consolidação de robustas cooperativas (Coodetec, Castrolanda, Agrária), associações setoriais (OCB, Ocepar, Unica, Aprosoja) e notáveis instituições de pesquisa (Embrapa, CTC, Esalq, Fundação MT etc.).

    Ele identifica três modelos distintos de organização das cadeias de valor do agro:

    - Região Sul: integração de pequenos e médios produtores em sólidas cooperativas e arranjos contratuais com processadores de grãos, suínos, aves, lácteos e fumo.

    - Região Sudeste: consolidação de sistema verticalmente integrados de produção, apoiados por contratos a montante e a jusante, como no exemplo das indústrias da cana-de-açúcar, celulose e laranja, fortemente voltadas à exportação.

    Economia e Organização da Agricultura Brasileira
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    - Regiões Centro-Oeste e Centro-Norte: emergência de grandes grupos familiares e corporações empresariais, que inauguram sistemas que aproveitam economias de escala e escopo em grãos, algodão e carnes, mas com desafios a vencer na organização das cadeias de suprimento.

    Fabio mostra que recursos naturais, tecnologia e subsídios foram condições relevantes, mas não suficientes, para fazer a festa acontecer no agronegócio.

    Na verdade, o sucesso do modelo brasileiro nasce de milhares de empreendedores anônimos que desbravaram o país, se organizando por meio de sistemas agroindustriais inovadores que produziram aumentos de produtividade sem paralelo no mundo.

    marcos sawaya jank

    Especialista em questões globais do agronegócio. Vive em Cingapura.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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