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    Marcos Jank

    Vítimas do protecionismo brasileiro

    14/10/2017 02h00

    Joel Silva - 9.mai.2017/Folhapress
    SERTAOZINHO, SP, BRASIL- 09-05-2017 : Colheirta mecanizada da Usina Santo Antonio em sertãozinho.Usina Santo Antonio tem toda colheita mecanizada. Mecanizacao no corte de cana e crise no setor de usinas de producao de alcool e acucar, provoca mudancas na migracao de trabalhadores rurais no interior de Sao Paulo.. ( Foto: Joel Silva/Folhapress ) *** *** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
    Colheita mecanizada de cana em usina de Sertãozinho, no interior de São Paulo

    O Brasil vive o dilema de se integrar ou de se proteger do resto do mundo. Ultimamente nossas políticas comerciais têm contribuído mais para nos isolar: altas tarifas, restrições não tarifárias, políticas de conteúdo nacional e a aplicação indiscriminada de medidas antidumping.

    Atitudes seletivas de proteção a setores menos competitivos estão prejudicando setores exportadores que trazem enorme volume de divisas para o Brasil.

    Um bom exemplo é a nossa relação com a China. Nos últimos anos, o Brasil aprovou 57 processos antidumping contra aquele país. A lista de produtos protegidos é extensa e curiosa: aço, eletrodos, pneus, ventiladores, armação de óculos, escova de cabelo, canetas, seringas, calçados, talheres, cadeados e espelhos.

    A China reagiu. Em maio, aplicou salvaguarda que baniu as nossas exportações de açúcar, ao elevar a tarifa para 95%. Uma semana antes da visita do presidente Temer, em setembro, a China iniciou investigação de dumping contra as nossas exportações de carne de frango.

    O Brasil exporta US$ 1,7 bilhão em açúcar e frango ao ano para a China, não por acaso o mesmo valor das importações somadas das 130 linhas tarifárias que receberam sobretaxas antidumping no Brasil.

    A verdade é que dois produtos fundamentais da nossa pauta exportadora para a China foram escolhidos para "pagar a conta" do excessivo número de processos abertos pelo Brasil desde 2013.

    Neste momento, um dos temas mais sensíveis para a China é a investigação que o Brasil abriu contra a importação de chapas de aço laminado a quente daquele país. A decisão será tomada no dia 25 pela Câmara de Comércio Exterior (Camex).

    Acontece que não são só o frango e o açúcar que pagarão a conta do excessivo protecionismo brasileiro. Dezoito entidades setoriais que representam centenas de indústrias que usam laminados de aço (Anfavea, Abimaq, Eletros etc.) se manifestaram contra a imposição de sobretaxas pelo Brasil.

    Os usuários de aço apresentam vários argumentos contra a sobretaxa: forte concentração da indústria do aço no Brasil, repasse de preços, queda de demanda pela crise econômica etc.

    Em artigo na "Revista Consultor Jurídico" de 05 de outubro, o professor de direito da USP João Grandino Rosas mostra que a sobretaxa do aço teria impacto econômico em praticamente toda cadeia produtiva de transformação no Brasil: "Os sete setores diretamente mais afetados somam aproximadamente R$ 477 bilhões em valores de produção, enquanto a soma do valor de produção das siderúrgicas totaliza R$ 15 bilhões. Ou seja, o impacto direto na economia brasileira seria 30 vezes maior que o benefício para uma pequena parcela da indústria nacional".

    Em suma, a sobretaxa do aço aumentará os custos de setores fundamentais da economia e ainda atinge dois segmentos que lideram nossas exportações para a China. Vale lembrar que esse ano teremos um superavit comercial da ordem de US$ 20 bilhões com a China, nosso maior parceiro comercial.

    A verdade é que não se constrói competitividade com proteção tarifária e direitos antidumping. Constrói-se competitividade, sim, com inovação, redução de custos, competição global e reformas de políticas públicas nefastas (tributação excessiva, legislação trabalhista anacrônica, burocracias absurdas etc.).

    A sociedade brasileira como um todo ganhará muito mais se nos integrarmos ao mundo do que se nos isolarmos dele. É isso que a trajetória dos países mais bem-sucedidos do planeta nos ensina.

    marcos sawaya jank

    Especialista em questões globais do agronegócio. Vive em Cingapura.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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