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    Marcos Lisboa

    Não é tão simples assim

    18/12/2016 02h00

    O debate econômico no Brasil usualmente se concentra em poucos temas, como a taxa básica de juros. A energia gasta contrasta com a relevância limitada do instrumento. A política monetária pode, apenas, quando bem administrada, garantir que a inflação permaneça relativamente estável. Não muito mais do que isso.

    A tentativa de utilizar a política monetária para aumentar a taxa de crescimento tem vida curta, e resulta em uma expansão temporária da atividade tendo, como contrapartida, o aumento dos preços e dificuldades econômicas ainda maiores a médio prazo.

    Retomar um maior crescimento da renda requer, continuamente, aumentar a capacidade de produção da economia com os recursos disponíveis, tema da microeconomia e das reformas que procuram aumentar a produtividade e reduzir os custos de transação.

    Custo de transação é o termo dos economistas para as despesas que as empresas têm que arcar para realizar seus negócios, porém que não resultam em maior produção, nem em bem-estar para a população, como uma burocracia desnecessariamente complexa para novos empreendimentos ou regras que permitem comportamentos oportunistas.

    O agronegócio no Brasil mostra como a política pública pode colaborar com o aumento da produtividade, como a adaptação da soja ao Centro-Oeste, que resultou no notável crescimento da produção nas últimas quatro décadas, com queda significativa dos preços para os consumidores.

    O crédito consignado exemplifica como a política pública pode reduzir os custos de transação. Em 2003, a taxa de juros no crédito pessoal era de mais de 7% ao mês. Com o consignado, cujo pagamento é deduzido diretamente da folha de pagamentos, houve queda da inadimplência, reduzindo o custo da concessão de crédito. A concorrência garantiu que essa menor perda fosse transferida para as famílias, que passaram a pagar menos de 3% ao mês, e resultaram no aumento expressivo do crédito.

    Meu artigo com José Alexandre Scheinkman, na "Ilustríssima" deste domingo (18), sistematiza algumas das razões do nosso baixo crescimento da produtividade.

    Existem intervenções microeconômicas, porém, que apenas beneficiam alguns às custas dos demais. As regras de conteúdo nacional, por exemplo, estimulam a produção local de diversos bens de capital. Os setores que são obrigados a adquiri-los, porém, pagam preços maiores do que se fossem adquiridos no mercado externo. O resultado final pode ser a queda da produtividade e um país mais pobre, como ocorreu na indústria de óleo e gás.

    Em um caso, o crescimento da produtividade. Em outro, medidas que apenas ampliam as distorções da economia, para benefício de alguns, em prejuízo da maioria.

    marcos lisboa

    Marcos de Barros Lisboa, 52, é doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia. Foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e é Presidente do Insper.

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