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    Marcos Lisboa

    Qual será o legado do governo Temer?

    25/12/2016 02h00

    Joel Rodrigues/FramePhoto/Folhapress
    (e/d) Michel Temer, Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira durante assinatura da MP do plano de proteção ao emprego, em Brasília (DF)
    Michel Temer e os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento)

    Elaborar listas é um passatempo norte-americano.

    Invariavelmente, George Washington, Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt são avaliados como os melhores presidentes da história dos Estados Unidos.

    George Washington liderou a revolução pela independência, presidiu a convenção que resultou na Constituição em vigor desde então e foi o primeiro presidente dos EUA. No fim de seu segundo mandato, resolveu não concorrer pela terceira vez, criando uma tradição mais tarde transformada em norma constitucional.

    Lincoln enfrentou uma guerra civil, manteve a unidade do país e aprovou o fim da escravidão. Roosevelt expandiu as políticas sociais na depressão dos anos 1930 e conduziu os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

    No outro extremo, James Buchanan (1857-1861) é considerado um dos piores presidentes da história americana. Buchanan precedeu Lincoln, e a sua inabilidade em lidar com os conflitos entre os Estados contribuiu decisivamente para a Guerra Civil americana.

    No seu discurso de posse, declarou o debate sobre a autonomia dos novos territórios para legislar sobre a escravidão um tema de pouca importância prática, que seria resolvido rapidamente. Buchanan delegou a resolução da divergência para a Suprema Corte, ainda que tenha procurado interferir por meio de conversas nos bastidores. O resultado foi o agravamento da crise entre os Estados.

    Outros conflitos se sucederam e, no meio do mandato, Buchanan perdeu o apoio da maioria em ambas as casas legislativas, sendo investigado por uma comissão parlamentar. Não houve impeachment, mas um duro relatório o acusou de diversos desvios.

    O fracasso da presidência de Buchanan transbordou para o atrapalhado processo eleitoral da sua sucessão. Seu partido dividiu-se em diversas candidaturas, tornando inevitável a eleição do candidato da oposição, Lincoln– talvez seu único bom legado, ainda que não intencionado.

    Buchanan foi alertado de que deveria preparar o Exército para uma eventual revolta nos Estados do Sul. No entanto, desconfiou dos avisos e não adotou as medidas recomendadas. No fim do seu mandato, sete Estados se separaram da união.

    As declarações de Buchanan sugerem um presidente bem-intencionado, porém incompetente para entender e enfrentar uma grave crise.

    O atual governo enfrenta grandes dificuldades, sendo uma das mais graves o desequilíbrio das contas públicas estaduais, que pode resultar em uma crise econômica e social ainda mais severa nos próximos anos. Seu desdobramento poderá definir o legado do governo Temer. A decisão do Congresso de eliminar as contrapartidas dos Estados sugere Buchanan.

    marcos lisboa

    Marcos de Barros Lisboa, 52, é doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia. Foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e é Presidente do Insper.

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