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    Marcos Lisboa

    A gerente repetiu o fracasso do general

    15/01/2017 02h00

    Rivaldo Gomes/Folhapress
    Fila para atendimento no INSS, em outubro
    Fila para atendimento no INSS, em outubro

    As causas domésticas da crise econômica podem ser classificadas em duas categorias: uma óbvia; a outra, talvez, mais sutil.

    A causa óbvia decorre de um setor público que se comprometeu com mais do que pode entregar, como exemplificam as desonerações tributárias, o crédito subsidiado à roldão e a omissão frente ao deficit da Previdência Social e dos gastos com servidores públicos nos diversos poderes.

    A causa sutil foi uma política econômica que acreditou que estimular a produção local de bens, substituindo importações, resultaria em desenvolvimento econômico. Produzir, por exemplo, navios no Brasil resultaria na geração de empregos aqui em vez de em países da Ásia. O mesmo ocorreria com a produção de bens de capital ou de automóveis. Pois bem, deu errado.

    A lógica subjacente ao governo, dito de esquerda, ecoou a gestão Geisel, que se dizia indignado com a importação de manteiga no país da sua infância. Deveria se produzir no Brasil tudo o que fosse possível. O seu legado foi uma década perdida.

    A gerente repetiu o fracasso do general. A política de substituição de importações ignorou seus impactos sobre as demais atividades produtivas e comprometeu as contas públicas ao subsidiar empresas privadas. O resultado foi deixarmos de produzir o que fazemos bem para, ao invés, fabricar navios e bens de capital mais caros do que os que poderiam ser importados. A conta foi paga pelas empresas obrigadas a adquiri-los.

    Políticas setoriais são bem-vindas quando podem resultar em maior produtividade, o que requer a análise dos custos de oportunidade e dos impactos sobre as demais empresas e as famílias. Caso contrário, trata-se, apenas, de um palpite infeliz.

    As empresas que apostaram nas proteções artificiais prometidas pelo governo agora arcam com um endividamento insustentável ou excesso de capacidade de produção, como nos setores de óleo e gás, de automóveis e da construção civil, vítima do Minha Casa, Minha Vida. O mesmo ocorreu com as concessões mal desenhadas, dos presídios aos estádios de futebol, passando por estradas e aeroportos.

    O populismo não economiza na incompetência, como mostram as tentativas heterodoxas de controlar a inflação. A defasagem no reajuste do preço da gasolina e a intervenção no setor elétrico prejudicaram diversos setores, destruindo empregos.

    A política econômica comprometeu as contas públicas e a solvência de muitas empresas. O resultado foi uma longa recessão e o desperdício de recursos em um país de baixa renda. A esquerda desenvolvimentista se assemelha à ditadura no fracasso da gestão da economia.

    marcos lisboa

    Marcos de Barros Lisboa, 52, é doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia. Foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e é Presidente do Insper.

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