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    Marcos Lisboa

    A industrialização conduz à prosperidade?

    24/09/2017 02h00

    Reuters
    ORG XMIT: PEK04 An employee gestures to stop a photographer from taking pictures near a board showing recently increased fuel prices at a gas station in Hefei, Anhui province April 7, 2011. China will increase retail gasoline and diesel prices by 5-5.5 percent to new record highs from Thursday, the government said, easing the burden of state refiners who face international oil prices at 2.5-year highs. REUTERS/Stringer (CHINA - Tags: BUSINESS ENERGY)
    Operário trabalha em forno de siderúrgica na China

    A visão convencional associa desenvolvimento econômico ao processo de industrialização dos países, afinal o notável crescimento da renda na Europa ocidental ocorreu após a Revolução Industrial. Essa interpretação, porém, requer cautela, pois podem existir outros fatores responsáveis pela ocorrência simultânea desses eventos.

    Usando dados regionais da França de 200 anos atrás, Raphaël Frank e Oded Galor utilizam uma abordagem inovadora para responder à pergunta do seu artigo: A industrialização conduz à prosperidade no longo prazo?

    A França é dividida em departamentos, algo semelhante aos nossos Estados. A máquina a vapor, base da indústria no começo do século 19, foi inicialmente introduzida no extremo norte do país e depois difundida nos departamentos adjacentes e na região ao redor de Paris. Nas décadas que se seguiram, existiam mais máquinas nos departamentos próximos do norte do que no sul, apesar de essas regiões serem relativamente homogêneas antes do início do século 19 e do processo de industrialização.

    O artigo conclui que o crescimento econômico decorreu apenas das características locais dos departamentos, como o acesso à educação e a qualidade das instituições. Essas mesmas características, em conjunto com a proximidade ao extremo norte, resultaram no processo de industrialização na França. Surpreendentemente, não foram relevantes os acessos ao transporte marítimo, a matérias-primas (carvão), ou, mesmo, à imigração. A industrialização não foi causa, mas sim consequência.

    Em meados do século 19, nas regiões mais ao norte e industrializadas, ocorreu um aumento da escolaridade e da sindicalização dos trabalhadores, contribuindo para o crescimento. Entretanto, no século e meio que se seguiu, esses departamentos passaram a apresentar menor escolaridade e proporção de ocupações qualificadas do que os demais, com queda da renda do trabalho, aumento da desigualdade e maior desemprego. Qual o canal por trás dessa curiosa "reversão das fortunas"? Não sabemos ao certo. A educação e a qualidade das instituições contribuíram para o desenvolvimento dos países. O mesmo não pode ser afirmado sobre a industrialização.

    Uma curiosidade que não faz parte do artigo. Na última eleição na França, Marine Le Pen congregou o discurso conservador, protecionista e anti-imigração. A sua principal base eleitoral foi o extremo norte, berço da industrialização no país. Não deve surpreender a semelhança entre e o discurso de Le Pen e o de Donald Trump, que deveu sua eleição aos votos do cinturão da ferrugem, a decadente região que já foi o centro da indústria americana.

    marcos lisboa

    Marcos de Barros Lisboa, 52, é doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia. Foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e é Presidente do Insper.

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