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    Marcos Augusto Gonçalves

    Novos gringos

    13/05/2013 03h00

    No parque, no supermercado, no shopping, nas ruas. As vozes ao redor falam com mais frequência línguas estrangeiras ou estou ouvindo coisas? Embora nas estatísticas do IBGE o número de residentes nascidos fora do país decline no Estado de São Paulo, outros dados e situações confirmam a sensação de que há mais estrangeiros em circulação.

    Cresce, por exemplo, a concessão de vistos de trabalho para gringos qualificados no Brasil. No ano passado, foram 73.022 autorizações, sendo 64.682 temporárias e 8.340 permanentes. Nos últimos três anos, vistos para profissionais com vínculo empregatício aumentaram 137%.

    Com a crise na Europa, a presença de turistas portugueses e espanhóis caiu, mas engrossou o fluxo dos que vêm de lá em busca de trabalho. São Paulo, com sua relevância econômica, recebe grande parte desses novos imigrantes. Isso sem falar nos ilegais, que não vão a shoppings e lugares badalados, mas fazem parte da paisagem do centro da cidade, onde come-se num bom sujinho peruano instalado ao lado de um correlato árabe.

    E só faz florescer a Little Africa, que há anos se instalou no pedaço com seus bares, restaurantes e figuras que parecem ter nascido com celulares colados nas orelhas.

    Ultimamente os haitianos passaram a fazer companhia aos africanos, latino-americanos e asiáticos. Na semana passada, cerca de cem deles foram obrigados a abandonar, por decisão judicial, um prédio que se tornara uma espécie de "república" comunitária, onde viviam de pedreiros a sociólogos.

    Se o Rio de Janeiro é o principal destino de turismo de lazer do país, não é demais lembrar que São Paulo recebe mais visitantes.

    Não, obviamente, pelo balançado da garota dos Jardins, mas por possuir os principais aeroportos, ser o centro financeiro e industrial e ter uma agenda gigantesca de eventos de negócios -com uma oferta cosmopolita e boa de restaurantes, programas culturais e night.

    Em 2012, desembarcaram em São Paulo 2,1 milhões de visitantes estrangeiros; no Rio, 1,2 milhões e no país, 5,8 milhões.

    Diante do aperto no mercado de trabalho, o governo federal está se mexendo para facilitar e incentivar a imigração de profissionais estrangeiros. Faltam médicos, engenheiros, técnicos. O que faz lembrar os tempos em que São Paulo assumiu a liderança da importação de mão de obra europeia, na passagem do século 19 para o 20.

    A importação de força de trabalho foi durante anos organizada por empresas, como a Sociedade Promotora de Imigração, que atendia diretamente aos interesses dos produtores de café, como a família Silva Prado. Os imigrantes eram selecionados, transportados, hospedados e encaminhados às fazendas.

    Com a urbanização da capital e o florescimento da indústria, o fluxo explodiu e a cidade, que crescia vertiginosamente, tornou-se uma pequena babel. Falava-se italiano por todos os lados, o francês era obrigatório nas famílias educadas, e ouvia-se pela ruas gente conversando em árabe, hebraico ou alemão.

    A perspectiva de que mais estrangeiros venham para cá faz pensar em quanto ainda estamos despreparados para recebê-los, em termos de infraestrutura, educação e informação. Dá para imaginar o que deve sofrer um gringo desenturmado em São Paulo?

    marcos.augusto@grupofolha.com.br

    marcos augusto gonçalves

    Foi editor da 'Ilustríssima'. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' e de '1922 - A semana que Não Terminou'.

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