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    Marcos Augusto Gonçalves

    Um café, por favor

    26/01/2014 03h00

    O senhor, de paletó e echarpe, estava sentado à mesa do Starbucks do SoHo com um álbum nas mãos. Folheava lentamente as páginas de plástico, recheadas de fotografias. Demorava-se numa delas, a seguir desviava os olhos para um ponto no infinito, e punha-se a falar. Como se através daquelas imagens recontasse para si próprio as histórias de sua vida.

    Não sei bem se era isso o que fazia, mas imaginei que sim. A voz saía baixa e eu estava um pouco afastado, observando. A tecnojapa sentada ao lado dele certamente não poderia me ajudar, com aqueles fones enfiados no ouvido e os olhinhos na tela do MacBook.

    Bem, eu e ela aproveitávamos o que de mais esperto a extensa rede de Starbucks oferece, além de tortas, croissants, cafés e bebidas complicadas: no meu caso, a oportunidade de ir ao banheiro; no dela, de usar de graça a conexão com a internet. Uma boa forma de atrair gente numa cidade sempre cheia de turistas em que se caminha muito pelas ruas.

    Tomar café por aqui não é para principiantes. O normal é o cháfezão gigante. Há quem goste. O espresso não é difícil de encontrar, mas raramente é bom.

    Ok. Em São Paulo também tem o caipirão açucarado e não se acha um espresso pra valer em qualquer esquina.

    A vantagem é que o freguês não passa, como em Nova York, por um interrogatório antes que a bebida seja, enfim, servida. Regular ou espresso? Single ou duplo? Com creme ou sem creme? Leite desnatado ou leite integral? Copinho com tampinha ou sem tampinha?

    Pensei que fosse um problema meu, mas encontrei, sem querer, um americano solidário. Lia na internet sobre o fiasco do website do sistema de saúde criado pela administração Obama, e eis que me deparei com o depoimento de um jornalista bem-humorado. Ele testou a página, deu sorte que não caiu, mas achou complicado responder às perguntas feitas ao usuário. Comparava-se, escreveu, "à experiência de pedir um café nos EUA". Não fui eu quem disse.

    Todo mundo tem seu café em Nova York. Os mais "cool" estão em Williamsburg ou Greenpoint, me avisa o amigo hipster. Já passei por alguns. Em Manhattan, meu predileto -também por ser relativamente perto- é o Prague, na rua 19, entre a Quinta e a Sexta avenidas. O lugar é legal, o espresso é bom e o strudel tcheco, matador.

    Outro dia, porém, experimentei uma bebida excelente, que me fez lembrar os curtos de Milão. Foi no Sant Ambroeus da avenida Madison, entre as ruas 77 e 78, no Upper East Side. E o melhor: xícara linda e sem interrogatório.

    Texto publicado na 'Serafina'

    marcos augusto gonçalves

    Foi editor da 'Ilustríssima'. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' e de '1922 - A semana que Não Terminou'.

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