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    Marcos Augusto Gonçalves - Marcos Augusto Machado Gonçalves

    Dilma, a gerente sumiu!

    08/04/2014 03h00

    Depois de seis meses em Nova York, tirei uma semana para revisitar a Pauliceia –e por isso não escrevi a coluna de terça passada. Foi ótimo reencontrar amigos e rever a cidade durante o frenesi da SP-Arte. Muitos "gringos" para lá e para cá, exposições, festas e o papo que não quer calar: o governo, o "mercado", a oposição, as eleições.

    Uma coisa é acompanhar as notícias e as discussões à distância, pela imprensa e pelas redes sociais. Outra é respirar o ar de onde as coisas acontecem. E por mais que os petistas não gostem disso e alguns vejam sempre conspirações a solapar a infalibilidade da esquerda, o fato é que Dilma balança. Se cai ou não, veremos.

    As pesquisas mais recentes, embora confirmem o favoritismo na corrida eleitoral, mostram queda importante na popularidade. O dado mais significativo no levantamento Datafolha –analisado, aliás, num artigo por Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do instituto– é que para 63% dos brasileiros, a presidente fez, até aqui, menos do que o esperado. Em março de 2013, a situação era bem outra: só 34% achavam isso.

    A ideia de que as pessoas no Brasil querem mais foi levantada pela própria Dilma para explicar as manifestações de junho. Esse "querer mais" seria consequência do muito que o governo Lula e o dela já teriam feito. É provável, mas o que a pesquisa Datafolha mostrou foi uma frustração com o que poderia ter sido mas não foi.

    Não vou, neste caso, discordar da maioria: é inevitável reconhecer que o governo federal, em que pesem as boas intenções e a correção pessoal da presidente, é medíocre, senão um amontoado de trapalhadas. A articulação da base parlamentar é um caos; a economia, uma paspalhice comovente; a política externa não existe (ou quando existe é ideológica e acomodada); a área de energia, uma confusão; a Petrobras (e isso vem de outros carnavais), um despautério...

    Escolhida por Lula para ser sua continuadora, Dilma não reunia credenciais para tanto. Mas o rótulo de "boa gerente" foi comprado por todos. E o começo de mandato até que não pareceu mal.

    Hoje, a sensação é de que a gerente sumiu. Uma administração ineficiente, um Estado loteado, um emburrecimento geral do setor público. Se a presidente era de fato uma boa gestora, não tem conseguido, infelizmente, materializar tal virtude. Sabe-se que é mandona e dizem que acha que entende de tudo – dá broncas memoráveis e é temida por colaboradores. Mas isso, definitivamente, não é sinônimo de administradora competente.

    Os resultados falam mais alto. E são ruins. Os problemas não são as "forças ocultas", mas as fraquezas evidentes.

    Do ponto de vista eleitoral, Dilma contará com a inércia –e a massa de poderes– de quem está no Palácio. E, ainda, com uma considerável parcela da população, a mais pobre e menos escolarizada, que historicamente contenta-se com pouco. A oposição, por sua vez, tem sido incompetente –mas já se animou. A insatisfação é difusa. O vento pode virar.

    Não por acaso, antes que vire, setores do PT querem relançar Lula. Até mesmo empresários têm incentivado o cara a considerar a hipótese de concorrer.

    Creio que esse "queremismo" em torno do ex-presidente pode até prosperar, mas parece mais fadado ao fracasso. Seria o reconhecimento de que a criatura criada no laboratório lulista não funcionou direito –além de um risco desnecessário.

    Lula mesmo, em mais uma de suas referências esportivas, lembrou o caso de Schumacher, o super-campeão que abandonou a Fórmula 1 no auge e voltou para ser figurante, sem condições de fazer o que fazia. Ele sabe que a pista está escorregadia e o carro está virando uma carroça. Pode tentar resolver "no braço" (certo, Galvão?). Mas será que dá? E valeria a pena?

    marcos augusto gonçalves

    Foi editor da 'Ilustríssima'. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' e de '1922 - A semana que Não Terminou'.

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