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    Marcos Augusto Gonçalves

    Pelo direito de tuitar na urna!

    05/08/2014 02h00

    A urna eletrônica foi uma boa invenção. O voto é rápido e a apuração também, sem aquele novelão confuso e impreciso da contagem manual.

    O problema é que o sufrágio digital subtraiu do eleitor o direito a uma salutar e democrática transgressão: escrever na cédula uma mensagem de protesto ou até mesmo "eleger" um rinoceronte –como aconteceu, em outros tempos, com Cacareco. Como se sabe, em 1959, a paquiderme (a bem da verdade era uma fêmea) do zoológico paulistano obteve 100 mil votos nas eleições para a Câmara Municipal, 5.000 a mais do que a legenda mais votada, o Partido Social Progressista (PSP).

    Hoje, quem quiser anular seu voto em sinal de protesto não tem como explicitar sua intenção. Pode apenas teclar alguns números inválidos, correndo o risco de ser confundido com um trapalhão.

    Uma solução para o problema seria aperfeiçoar o sistema e dar ao eleitor a chance de uma tuitada. Sim, você passaria a ter a opção de mandar junto com seu voto uma mensagem de 140 caracteres. É justo, e existe tecnologia para isso.

    O tema tornou-se mais relevante neste início de campanha para o pleito de outubro. Da mesma forma que o futebol brasileiro, a política nacional também se ressente de mais investimento nas divisões de base. A renovação, com raras exceções, tem deixado a desejar. Muito perna de pau –ou aquela mesmice adentram o gramado. Como diria Galvão Bueno, vive um drama o eleitor brasileiro!

    Não é por acaso que o desejo de mudança captado pelas pesquisas de opinião não se materializa em candidatos. Não são poucos os eleitores que se veem –como se dizia nos tempos da Cacareco– entre a cruz e a caldeirinha.

    Natural que nesse cenário medíocre cresça a opinião favorável ao voto nulo. Ok, eu já li, anular o voto favorece o candidato que está à frente. E tende a diminuir a chance de segundo turno. Mas ocorre que quem realmente pretende adotar essa atitude não deve estar muito preocupado com essas questões. Na verdade, acredita que tanto faz ganhar este ou aquele outro –já que nada realmente vai mudar.

    O ceticismo também é uma atitude política. Bem como a recusa a um leque insatisfatório de candidaturas –num país em que o comparecimento é uma obrigação. O que talvez esse eleitor desiludido ou revoltado mais sinta falta é da possibilidade de deixar claro seu protesto.

    Uni-vos, pois, anuladores convictos, pelo direito a uma tuitada na urna eletrônica!

    marcos augusto gonçalves

    Foi editor da 'Ilustríssima'. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' e de '1922 - A semana que Não Terminou'.

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