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    Marcos Caramuru de Paiva

    Hora de acertar o passo com a China

    02/11/2013 03h05

    Na próxima semana, realiza-se a Cosban, o foro de mais alto nível entre o Brasil e a China.

    Nossos vínculos com a China intensificaram-se muito nos últimos anos. E, como outros países, passamos a ter um relacionamento bilateral com desequilíbrios.

    Aqui vão alguns exemplos:

    1. Nossas exportações de commodities são essenciais para a saúde das contas externas. Não podemos deslocá-las. Nenhum outro país as absorveria no mesmo volume.

    Mas os chineses, nos itens que buscam em nosso mercado, estão diversificando supridores.

    Um exemplo está no petróleo: na semana passada, celebramos a participação chinesa em 20% do consórcio para a exploração do campo de Libra. Dias antes do leilão, os chineses
    anunciaram o fim da construção de um gasoduto para lhes garantir o suprimento de óleo de Mianmar. Dois dias depois, assinaram um acordo com a Rússia no valor de US$ 85 bilhões para a compra de 200 mil barris em dez anos.

    2. Os acordos de livre-comércio que os chineses estão negociando, assim como certos investimentos de suas empresas no exterior, podem afetar o potencial de nossas vendas para a China. A recíproca não é verdadeira.

    3. A maioria das empresas brasileiras instaladas na China está lá para comprar. Os chineses estão aqui para vender. Nada há de errado em importar produtos. Mas é preocupante termos reduzidos apetite e condições para penetrar no mercado chinês com itens de maior valor agregado. E é algo frustrante que nossas exportações agrícolas deem-se com baixa interferência nossa ou dos chineses na intermediação e na logística.

    4. Os chineses se tornaram grandes investidores externos. Mas seu apetite por investimentos no Brasil é moderado. Os investimentos chineses dirigem-se primordialmente à Europa (Reino Unido e Alemanha, em particular) e aos EUA.

    5. A China, como o Brasil, é um líder regional. Mas há diferenças marcantes no perfil dos vizinhos. Enquanto a China tem um entorno de países dinâmicos e bem conectados à economia internacional, nossos vizinhos mostram baixa integração ao mundo externo.

    Na verdade, quem costumava ter uma integração saudável, a Argentina, perdeu espaço. Pior: passou a ampliar seus vínculos com os chineses e a nos fazer reduzir participação em seus mercados.

    Os desequilíbrios são reflexo de uma relação que se intensificou rapidamente. Frequentemente resultam de problemas nossos. Não há por que tratá-los como permanentes. Exemplo: reclamamos que os chineses compram commodities, mas não grãos processados.

    Quem, na China, buscaria parceria na área de processamento de grãos? As empresas que produzem ração ou comercializam compras externas de itens como farelo de soja. Precisamos procurá-las mais.

    Um erro na relação com a China é bloquear negócios, como temos feito com sucessivos processos antidumping aplicados às suas exportações.

    Tudo é questão de estratégia e de aproveitarmos oportunidades como a Cosban para acertar o passo, conversar, construir.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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