• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 16:25:54 -03
    Marcos Caramuru de Paiva

    Democracias de baixa densidade

    30/11/2013 03h05

    Milhares de pessoas saíram às ruas em Bancoc nesta semana para protestar contra o governo de Yingluck Shinawatra.

    Os manifestantes alinham-se contra o que se costuma chamar de "era Thaksin", referência a Thaksin Shinawatra, de quem Yingluck é irmã, que governou a Tailândia de 2001 a 2006, foi deposto por um golpe militar e vive em exílio, em Dubai.

    Protesta-se contra a corrupção e contra a força longínqua que Thaksin ainda exerce no comando dos temas governamentais. O propósito é derrubar o governo.

    Em 2010, Bancoc também foi cenário de manifestações, e bem mais violentas. Na época, quem ocupou as ruas foram os simpatizantes de Thaksin, os camisas vermelhas, que buscavam depor o governo de transição. Queimaram um shopping de luxo no centro e paralisaram uma parte vibrante da cidade.

    Na Tailândia, a democracia tem contornos peculiares. Os que votam no partido perdedor saem às ruas inconformados. Os que estão insatisfeitos ao longo de um período de governo fazem o mesmo. A ideia de uma minoria que aceita a decisão majoritária, pilar de um regime democrático, não funciona exatamente como em outros lugares.

    Democracias de baixa densidade, como a tailandesa, são várias nos dias de hoje. A Primavera Árabe inaugurou no Egito um regime "democrático" que ninguém espera que possa funcionar em curto prazo. É preciso amadurecer as práticas, criar instituições.

    Mas, no sudeste asiático, onde supostamente já houve tempo para tal amadurecimento, há outros exemplos. Cingapura e Malásia são países onde desde a independência, há mais de cinco décadas, não há alternância de partidos no poder.

    Na Malásia, ainda vige uma lei de exceção segundo a qual as pessoas podem ser detidas sem explicação e sem direito a defesa.

    Até a China, que não tem nenhuma intenção de flertar com a democracia em tempo previsível, eliminou uma lei semelhante há alguns dias.

    O equilíbrio político da Tailândia tem dois pilares.

    Um, o rei Bumibil Adulaydej, respeitado por todos e um frequente crítico da má conduta dos parlamentares, mas um homem doente, de quase 87 anos, sem sucessores com expressão.

    Outro, as Forças Armadas, que, quando veem as coisas fora de controle, derrubam o governo e tentam restabelecer a normalidade política. Nos últimos 80 anos, as Forças Armadas tailandesas fizeram isso 18 vezes.

    O que legitima as democracias de baixa densidade no quadro asiático são a produção do bem-estar e o compromisso --maior ou menor em diferentes países-- com as regras de mercado. Se eles faltarem, é difícil dizer o que ocorrerá com as realidades políticas.

    A Tailândia pode sofrer agora algum impacto econômico das manifestações. Em seguida, se restabelecerá. Os investidores já se habituaram. Contraem-se quando as ruas se agitam, expandem-se quando se acalmam.

    Há confiança geral de que, em qualquer circunstância, a realidade de uma economia aberta não se alterará.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024