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    Marcos Caramuru de Paiva

    Você confia em bitcoins?

    25/01/2014 03h10

    O leitor talvez nunca tenha ouvido falar nas bitcoins. Talvez as conheça e não as leve a sério, talvez as detenha.

    As bitcoins são uma moeda digital criada em 2009 por desconhecidos sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, como meio de pagamento alternativo aos controlados pelos bancos centrais.

    São transferidas no apertar de uma tecla de computador, sem limites e sem taxas. Parecem gozar de atratividade entre profissionais da era digital, sobretudo entre chineses, que têm uma tendência natural a tomar risco e associam o conceito de moeda ao de felicidade.

    Quem consultar a internet encontrará sites para vincular detentores e tomadores de bitcoins, um deles operado por brasileiros.

    Estima-se que o valor de mercado das bitcoins emitidas seja de US$ 10 bilhões, mas há muita volatilidade no cálculo. A taxa de conversão chegou a US$ 50 por bitcoin em abril de 2013 –quando o FBI fechou a empresa Silk Road, que aceitava a moeda, por suspeitar que ela estivesse envolvida no comércio de entorpecentes– e alcançou US$ 1.100 em novembro, quando, numa audiência do Senado americano, o Departamento de Justiça reconheceu que uma moeda virtual pode ser um meio legal de troca.

    Na China, onde se estima que 40% dos detentores de altos valores de bitcoins sejam mulheres, a moeda chegou a ser aceita pela popular rede de vendas on-line Alibaba.

    Em dezembro do ano passado, o Banco Central proibiu as instituições financeiras de operar com ela. Em seguida, o próprio Alibaba deixou de aceitá-la. Mas o Baidu (uma espécie de Google chinês) dá dicas de como adquirir marcas consagradas com bitcoins.

    Diversos formadores de opinião americanos são duros críticos do meio de pagamento virtual. Nomes consagrados, como Paul Krugman, têm alertado para os riscos de operar com uma moeda sem lastro e sem autoridade regulatória.

    Krugman, na verdade, foi além. Deu eco à opinião de Charles Stross, um escritor inglês especializado em ficção científica e computação, para quem as bitcoins objetivam danificar a capacidade do Estado de coletar tributos e monitorar as transações financeiras dos seus cidadãos.

    A questão é que muitos Estados consideram desnecessário vigiar as finanças dos cidadãos com a profundidade americana. Na China, por exemplo, nem há declaração de imposto de renda. E o próprio Banco Central dos EUA reconhece que moedas virtuais podem ser vistas como promissoras se promoverem um sistema de pagamentos mais rápido, seguro e eficiente.

    Foi o que afirmou Ben Bernanke numa carta ao Congresso em 17 de novembro passado.

    No artigo "Mapeando 2014", o Financial Times de 30 de dezembro passado formula 13 perguntas relevantes para o ano.

    Uma delas é: o valor das bitcoins cairá abaixo de US$ 50?, o que equivaleria a dizer: a moeda desaparecerá? O jornal diz que sim, mas não se arrisca a dizer quando.

    As bitcoins podem não sobreviver. Mas a discussão sobre moedas virtuais ficará no ar. Goste-se ou não, a tecnologia para criá-las passou a existir e há público para novas aventuras.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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