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    Marcos Caramuru de Paiva

    Brasil-China: uma avaliação

    30/06/2014 02h00

    O Presidente Xi Jinping vem ao Brasil em julho. Hora de avaliar nossa relação com a China. Aqui vai uma tentativa:

    O Brasil é o terceiro parceiro comercial da China no Ocidente. A China tornou-se para nós um importante supridor de equipamentos. Ao mesmo tempo, nossa exportação de commodities mantém o ritmo. Em 2013, por exemplo, 50,4% da soja comprada pelos chineses veio do Brasil. A expectativa é que o governo reabra a importação de carne e aprove que novas fábricas brasileiras vendam para a China continental sem o trânsito em Hong Kong.

    Há experiências chinesas de sucesso no Brasil: a da State Grid, por exemplo, na energia elétrica. Ao lado dela, a cooperação em petróleo reacendeu-se com a participação da Sinopec no leilão do poço de Libra. Recentemente, as estatais do setor ferroviário começaram a compreender melhor a nossa realidade e formar parcerias. Se souberem se integrar bem às nossas licitações, vão estabelecer um modelo para setores como logística, portos, transporte fluvial, em que a China acumulou a experiência que nos falta.

    Mas temos que enxergar o relacionamento num contexto global. O que buscamos dos chineses, maior participação em investimentos em infraestrutura, muitos –desenvolvidos e em desenvolvimento– também buscam. Na semana passada, essa foi a tônica da visita do premiê Li Keqiang ao Reino Unido e à Grécia. Os chineses, é evidente, colocarão seu maior empenho onde perceberem perspectivas melhores.

    Além disso, não somos os únicos a ter a China como primeiro parceiro comercial. Poucos países hoje não seguem esse padrão. A China tem procurado turbinar seu comércio, seja pela fixação de metas bilaterais de trocas, seja por acordos de livre-comércio, como o que está sendo negociado com a Austrália e deve ser concluído até o fim deste ano.

    Não é só com os Brics que a China está montando uma instituição financeira. O banco dos Brics será uma entidade semelhante ao banco de infraestrutura do Sudeste Asiático, também em negociação.

    A economia chinesa dá sinais de desaquecimento. Mas a classe média continuará se ampliando, ou seja, nossos produtos agrícolas continuarão penetrando. E, sempre que o crescimento estiver abaixo da meta, a China ampliará gastos em infraestrutura e construção. Haverá demanda por minério de ferro.

    Estamos, contudo, longe de explorar o potencial chinês. Não porque o mercado seja fechado –não é– mas porque isso exige preparação, financiamento, adaptação aos padrões crescentemente sofisticados dos consumidores chineses, redes complexas de distribuição, "branding" (algo que os chineses valorizam muito) e pouca hesitação em formar parcerias.

    Onde a China está mostrando maior vitalidade é nos investimentos externos. De 2008 a 2013, eles quase dobraram. O fluxo foi de US$ 101 bilhões no ano passado; o estoque chegou a US$ 613 bilhões. As prioridades são empresas de tecnologia e de alimentos. Mas as associações estendem-se a várias áreas.

    É aí que devemos procurar nichos interessantes que possam representar, para nós e para eles, ganhos representativos.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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