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    Marcos Caramuru de Paiva

    Dilemas da política industrial chinesa

    08/09/2014 02h00

    Grande parte do sucesso do setor industrial chinês nos últimos anos deu-se em função do acesso relativamente fácil e barato a financiamento.

    O baixo custo da mão de obra contou, a simplicidade da tributação e o grau de informalidade em que muitas empresas trabalharam até 2008, enquanto não havia lei de contrato de trabalho, também pesaram, o preço baixo da energia, a eficiência da logística, o desenvolvimento da infraestrutura desempenharam o seu papel.

    Mas a disponibilidade de recursos foi fator essencial para o desenvolvimento do setor privado.

    Quem conversa com empresários chineses neste momento, no entanto, dá-se conta de que o financiamento está bem mais difícil do que no passado.

    Os bancos estão rigorosos nas avaliações de risco, e tomar recursos em moeda estrangeira para os que investem ou operam no exterior é caro.

    O Banco Central tem reduzido o compulsório dos bancos, mas apenas para ampliar os empréstimos a micro e pequenas empresas e ao setor agrícola.

    Com isso, o setor industrial de médio porte está sendo afetado.

    Além disso, a política de combate à corrupção tem levado as instituições financeiras a emprestar com cautela redobrada.

    Os funcionários temem ser alvo de acusações, caso os projetos financiados apresentem problemas.

    O resultado é um tanto inusitado. As estatais, que não têm dificuldade de acesso a recursos, ficam numa posição favorecida. Ganham condições de se expandir e incorporar unidades industriais privadas que não veem espaço para ampliar os seus investimentos.

    Ao lado disso, o governo está estimulando capitais privados a participarem do financiamento de atividades em que as estatais são as grandes protagonistas, como, por exemplo, ferrovias.

    A questão é que a política governamental é precisamente diminuir o peso das estatais.

    O governo está apertando as regras para controlar suas operações, reduzindo drasticamente os salários da alta administração, aumentando o grau de transparência de suas contas, determinando que as estatais abram o capital de modo a levá-las a adotar práticas de mercado. O resultado, no entanto, é lento.

    Finalmente, o governo busca desacelerar empresas que atuam em setores onde há excesso de produção, como aço e carvão, por exemplo. E as resistências são grandes.

    No agregado, o setor privado continua em expansão. Mas a escala de crescimento e da renda ainda estão bem abaixo da realidade das estatais. É difícil ocupar o espaço dos monopólios públicos, há falta de talentos para posições-chave e a tributação pesa.

    Formular políticas que levem a que as empresas privadas aumentem sua participação relativa na economia -e não o contrário- é um dos desafios relevantes da política industrial chinesa.

    Um nó que parece estar longe de ser resolvido.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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