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    Marcos Caramuru de Paiva

    A China pró-mercado

    20/10/2014 02h00

    Nos primeiros nove meses de 2014, 2,6 milhões de novas empresas foram registradas na China. O governo flexibilizou as regras para a abertura de novos negócios e viu uma avalanche. O número foi mais de 50% superior ao do mesmo período de 2013 e o capital registrado 99,7% maior: US$ 2,18 trilhões. Não falta empreendedorismo no país.

    Sem dizê-lo, os chineses mostram acreditar que exista espaço para empresas públicas grandes e poderosas e um setor privado crescentemente robusto.

    Numa economia onde todos poupam, os empreendimentos são, por vezes, capitalizados da forma mais simples. Não é incomum empresários pequenos e médios apresentarem suas ideias em duas ou três folhas de papel e saírem à cata de quem queira colocar dinheiro. Como o mercado de capitais é pouco sofisticado e as opções de investimento reduzidas, os poupadores apostam naturalmente em novos projetos. Comprometem as economias com grau de informalidade e propensão a risco que não se veem em outros países. Até recentemente, funcionava um mercado razoavelmente ativo de bônus, mas foi parcialmente suspenso em outubro.

    Além de estimular a abertura de empresas, o governo chinês está buscando atrair os investidores privados para a infraestrutura. Criou um fundo para quem quiser investir em ferrovias e, na semana passada, anunciou que está estudando a participação do capital privado em projetos de conservação e suprimento de água. É um modelo diferente das tradicionais PPPs. O Estado, em nível nacional ou local, é tomador e gestor dos empreendimentos. Os poupadores receberão uma remuneração associada aos resultados.

    A China moderna tem preocupação permanente com eficiência. A tributação é descomplicada, e as autoridades a revisitam periodicamente para simplificá-la, de modo a tornar mais fácil a vida das empresas menores. A autoridade alfandegária fala sempre em atingir rapidez e eficiência.

    Em 2013, o tempo médio para processamento de importações na alfândega de Cantão, uma das mais movimentadas do país, foi de 27 horas (incluídos os trâmites burocráticos), e o de exportações, de 3 horas. Finalmente, as facilidades de infraestrutura seguem sendo aprimoradas. Uma das tendências recentes é aumentar as linhas já existentes de transporte ferroviário de grandes cidades chinesas para a Europa ocidental. O trem, dizem seus entusiastas, é mais rápido do que o navio, mais barato do que o avião.

    Aqui e ali no mundo, inclusive no Brasil, os governos olham o modelo chinês. Focam sua atenção no volume de financiamento público e em práticas como a de privilegiar segmentos ou empresas vencedores, com potencial de desempenho e boa inserção nos mercados internacionais. Encantam-se com os resultados e copiam a vertente chinesa mais intervencionista, controladora da atividade econômica.

    Mas essa é só a metade do quadro. Quem quiser chegar ao padrão chinês terá também de copiar experiências pró-mercado de sucesso. Elas contribuem muito para levar o país a taxas de crescimento ainda elevadas e à conquista de um espaço de peso na economia mundial.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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