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    Marcos Caramuru de Paiva

    O novo mercado de capitais chinês

    03/11/2014 02h00

    Cresce vertiginosamente na China o número das plataformas na internet para empréstimos de pessoa a pessoa ("P para P").

    Em 2012, elas eram 110. No final de 2013, o número chegou a 700. Em julho de 2014, já são 1.200.

    Numa economia em que muitos poupam e o mercado de capitais é pouco desenvolvido, o "P para P" parece bastante atraente para os investidores.

    O retorno pode chegar a 17% ou 18% ao ano, enquanto o investimento de prazo fixo numa instituição bancária remunera na casa dos 3,5%.

    Não se trata de operação ilegal. É supervisionada pela CBRC, órgão que regula o sistema bancário. E, embora a CBRC determine que as plataformas devam se limitar a fornecer informações aos que nelas investem, algumas oferecem garantias e buscam vender a ideia de que o dinheiro em suas mãos é seguro. Não é exatamente assim.

    Além dos "P para P", há outros investimentos financeiros quase informais. Um é o chamado "pagamento por terceira parte". Trata-se de investir em crédito ao consumo para quem compra on-line.

    Tanto o investidor nessa terceira parte, a quem é prometido retorno em taxa fixa, como o comprador, a quem é oferecido o crédito, operam exclusivamente na internet. O Banco Central é o regulador dessas operações.

    Outra modalidade ainda é o chamado "crowdfunding", uma plataforma para investimentos em ativos de renda variável.

    A remuneração depende do resultado das aplicações. O regulador é a CSRC, a comissão de valores mobiliários chinesa.

    Há duas explicações principais para o crescimento desse mercado na China: uma, o apetite para o risco dos poupadores; outra, o grau de confiança mútua na sociedade.

    Não pagar é "perder a face". O compromisso moral vale mais do que promissórias assinadas.

    Ainda que quem se comprometa com a remuneração do investimento seja apenas uma plataforma virtual, sem nome ou sobrenome e sem prova de experiência no mercado.

    E há duas razões a justificá-las: um sistema bancário pouco ágil e o uso ainda relativamente limitado dos cartões de crédito.

    Nos grandes centros urbanos, os cartões são difundidos. Mas o cidadão de renda média ainda não tem uma noção apurada de crédito.

    Em geral, não lhe passa pela cabeça pagar apenas uma parcela da conta do cartão. Entre os casais novos ou numa família não abastada, o marido tem o cartão de crédito em seu nome, mas quem o guarda é a mulher. O uso do cartão é parcimonioso, feito com um entendimento prévio entre os dois.

    Os tomadores nas plataformas são os que necessitam urgentemente de recursos e os jovens que se veem afogados pela propensão a consumir e não dispõem de salário para comprar, por exemplo, o mais novo produto eletrônico na praça.

    Mas, no cômputo geral, o chinês ainda é sobretudo um poupador. O site de compras Taobao e o comércio on-line estão contribuindo para mudar essa realidade. Mas vai levar tempo para que o consumo cresça nas taxas que o governo e os analistas econômicos gostariam de ver.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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