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    Marcos Caramuru de Paiva

    A cúpula da Apec em Pequim

    17/11/2014 02h00

    A Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na sigla em inglês) foi criada em 1989 e iniciou os encontros de cúpula em 1993.

    Ao longo do tempo, suas reuniões nunca impressionaram em matéria de resultados. O seu tema é comércio. Mas a ausência de perspectiva de um acordo de liberalização comercial que envolva todos os membros sempre deixou entrever que a Apec operava pelas beiradas.

    Com o lançamento, pelos EUA, da iniciativa de um acordo de livre comércio transpacífico (a TPP), em 2010, consolidou-se a impressão de uma Apec dividida.

    Uma negociação comercial na área de foco da associação envolvendo apenas alguns de seus membros e, deliberadamente, sem a presença da China só ajuda a alimentar a convicção de que o Pacífico é mais uma zona de disputa do que de entrosamento.

    O resultado da reunião presidencial de Pequim, na semana passada, no entanto, mostra que a associação está amadurecendo os seus rumos.

    O acordo de livre-comércio ainda parece inatingível. A China agora o defende com todo empenho -naturalmente, para esvaziar a TPP - e os chineses declararam que, pela primeira vez, os Estados Unidos passaram a não o rejeitar. Daí a resultados concretos falta muito.

    Entretanto, a Apec parece estar construindo uma agenda moderna, em que os temas são cadeias produtivas, comércio com valor adicionado, inovação e interconexão. Muitas economias do Pacífico já operam num nível de integração empresarial bastante avançado. Se a Apec puder turbinar esse movimento, terá valor adicionado.

    Fora do contexto multilateral, o que a China anunciou em entendimento com membros da Apec não foi desprezível. Estão em fase de conclusão o novo banco asiático de infraestrutura e um fundo para interconectar os países na rota da seda, um investimento de US$ 40 bilhões. A China e a Coreia assinaram um acordo de livre-comércio.

    Deram-se os toques finais no acordo de livre comércio China-Austrália, que poderá se materializar à margem da reunião do G20, que ocorre entre o momento em que escrevo este artigo e sua publicação pela Folha. A China alocará US$ 20 bilhões em empréstimos preferenciais para países da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).

    Desses entendimentos, dois podem ter algum impacto para o Brasil. Um é o acordo China-Austrália. Se o acordo com a Nova Zelândia servir de referência, choverão investimentos chineses na Austrália na área de alimentos.

    Dois: o que acontecerá na rota da seda, por mais que pareça distante de nós, poderá nos afetar, já que os chineses estão fomentando a produção de grãos em países como Mianmar, o Uzbequistão, a Ucrânia e o Tadjiquistão.

    A Apec ganhará fôlego na medida em que o segmento asiático do Pacífico se consolidar como a área de maior potencial econômico neste século. A associação ainda tem que mostrar mais em matéria de resultados. Mas tudo leva a crer que ela vai na direção certa e que deverá ser alvo de crescente atenção pelos países que não a compõem.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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