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    Marcos Caramuru de Paiva

    China-América Latina

    12/01/2015 02h00

    Há cerca de uma década, quando a China começou a olhar para o mundo como investidora, seu interesse na América Latina circunscrevia-se à agricultura e à mineração.

    O objetivo: garantir, no longo prazo e a preços tanto quanto possível sob seu controle, o suprimento de itens essenciais ao seu desenvolvimento. Além de assegurar mercado para seus produtos, naturalmente.

    O suprimento de commodities será sempre crucial, mas a China hoje tem uma estratégia econômica global bem mais complexa.

    Suas empresas passaram a formular planos robustos para assegurar presença no exterior. Resultado: os investimentos diretos externos chineses em 2015 deverão, pela primeira vez, exceder o fluxo de investimentos diretos estrangeiros na China. Eles somaram US$ 89 bilhões até novembro do ano passado.

    Ao lado disso, entraram na pauta de exportação, com prioridade, os serviços de engenharia, particularmente no setor ferroviário, no qual a China adquiriu experiência inigualável.

    Há não muito tempo, quem conversasse com empresas chinesas ouviria uma expressão de desânimo sobre a perspectiva de investir na América Latina. Agora, não há entusiasmo, mas o clima é diferente.

    No setor ferroviário, os chineses mapearam oportunidades, entraram nos metrôs em cidades populosas –como o Rio e Buenos Aires– começaram a entender melhor os modelos de PPP e iniciaram associações com empresas locais.

    Os acidentes de percurso são inevitáveis. No México, por exemplo, a CRC (China Railway Construction) ganhou uma licitação de US$ 3,75 bilhões para construir uma linha de trem bala, que foi, em seguida, anulada. Mas será reaberta em janeiro e a CRC já declarou que participará.

    O futuro da cooperação econômica China-AL estará no setor financeiro. Por enquanto, ela praticamente se limita a empréstimos governo a governo, em condições favoráveis, como o acertado na semana passada com o Equador (30 anos de prazo e 2% de juros anuais) e geralmente vinculados ao comércio.

    Os fundos privados e os investidores institucionais só podem investir no exterior com quotas que lhes são atribuídas individualmente, desconhecem a região e tendem a se concentrar em Hong Kong e mercados asiáticos.

    Levará tempo para que isso mude, mas a mudança ocorrerá.

    A questão central do relacionamento China-América Latina é que ele é pautado mais pelos interesses chineses do que pela visão latino-americana. E há bem mais governo do que setor privado, o que, por si só, garante aos chineses vantagem.

    Para diversos países isso não é problema. Mas, para o Brasil, que tem um setor privado dinâmico e é a maior economia da região, a equação não é de primeiro grau.

    Cabe a nós exercer um papel.

    Bem fez o ministro Mauro Vieira ao voar para Pequim na semana passada, poucos dias depois da posse, e marcar posição no encontro China-América Latina.

    Parte do papel da Chancelaria será também mover internamente o Brasil para entender melhor a China, não deixar as oportunidades passarem e inovar nas parcerias regionais, já que, no mínimo, os chineses dispõem do que mais falta na região e no próprio Brasil: capital.

    marcos caramuru de paiva

    Escreveu até janeiro de 2015

    Diplomata, sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai.

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