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    Marcos Troyjo

    A competição global entre elites

    10/01/2014 03h10

    O peso de um país nas relações internacionais se dá em três patamares: força dissuasiva de defesa; prosperidade de cidadãos e empresas; e influência projetada por valores intangíveis.

    Em todos, a inovação é cada vez mais determinante. E inovação é algo produzido por elites.

    Modos de pensar e agir que opõem "Norte/Sul", "mercado interno/externo", "empresas ou universidades públicas/privadas" e "manutenção/transformação de empregos" tornam sociedades reféns do imobilismo. Isso está bem argumentado desde o pioneiro Schumpeter até Acemoglu & Robinson e seu indispensável livro "Por que as Nações Fracassam".

    Seu resultado é irrelevância no campo do poder tradicional. Baixa densidade tecnológica de sua economia. Soft power limitado. A saída se dá basicamente com elites liderando uma ou outra estratégia de inovação: destruição criativa ou adaptação criativa.

    A primeira faz com que a economia esteja sempre em "caos evolutivo". Na dinâmica de constante mutação, apenas os inovadores sobrevivem. A substituição da máquina de escrever pelo computador é típico exemplo de destruição criativa.

    Rica no começo do século 20 graças à agropecuária, a Argentina – de elite educada, mas pouco afeita à inovação– iniciou o século 21 relativamente pobre. Os EUA ascenderam desde o século 19 com elite radicalmente inovadora. Tornaram-se a nação mais rica e poderosa.

    A segunda, adaptação criativa, significa fazer o mesmo que o líder, mas com inovação nos custos de trabalho, logística e velocidade. Esse é o rumo adotado por elites asiáticas. O que empresas sul-coreanas realizam em setores como televisores, smartphones ou automóveis são típicos exemplos de inovação por adaptação criativa. A grande arrancada chinesa desde 1978 também.

    O problema é que muitos países, empresas e elites acomodam-se a conjunturas que favorecem a substituição de importações ou modelos agroexportadores. Daí, "adaptar-se" vira caminho para obsolescência e conservadorismo.

    Ao contrário do que possa parecer, a inovação por destruição criativa não é o produto da centelha de gênios. Ela demanda elites visionárias e apaixonadas por seu país. Elites funcionais são as que unem patriotismo e planejamento estratégico –algo raro na tela de radar dos que dirigem o Brasil.

    Não basta amplo contingente vindo do ensino médio ou de escolas técnicas. Educação universal é obrigação cívica. No entanto, inovação não é medida em horas na sala de aula, mas no que se faz de concreto e inovador com a educação recebida. Portanto, inovação é produzida por elites e é o produto de elites.

    Elites inovadoras levam seus países à combinação de "quatro elementos constitutivos" da destruição criativa. Capital, conhecimento, empreendedorismo e ambientes de negócios conducentes à inovação.

    O insumo mais determinante da inovação é o capital humano de alta qualidade –o escasso recurso chamado talento. No limite, a grande corrida global deste século 21 nada mais é do que uma competição entre elites.

    mt2792@columbia.edu

    marcos troyjo

    Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.

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