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    Marcos Troyjo

    Riscos de um 'selfie' em Davos

    17/01/2014 03h10

    A presidente Dilma subirá ao palco do Fórum Econômico Mundial na sexta que vem. Em meia hora, tentará reverter o desânimo com que os mercados veem o futuro próximo do Brasil.

    Poderá, no entanto, empalidecer percepções ainda mais. Basta que sua fala seja um "selfie" –uma arenga autocongratulatória das "realizações" dos governos petistas.

    Quarenta chefes de Estado vão a Davos. Quase 3.000 líderes empresariais. Jornalistas e burocratas globais completam a turma. Se Dilma usar a ocasião para traçar autorretratos destinados ao eleitorado brasileiro, a escalada alpina será um desserviço ao interesse nacional.

    Em 2002, havia a "brasilfobia" provocada pela incógnita "Lula". Sucedeu-a em 2010 a "brasilmania", precipitada pelos 7,5% de crescimento e pela promessa de efeitos multiplicadores dos megaeventos.

    Hoje o que domina é a "brasil-apatia". Segundo o Banco Mundial, em 2014 cresceremos abaixo da média global. E perderemos de todos os emergentes, salvo Irã e Egito. Nada de colapso econômico. Nada, porém, de escapar dos inerciais 2% de expansão ao ano.

    A chance da repetição de um discurso "selfie" é alta. A intervenção de Dilma tem tudo para ser uma "fondue" entre a exposição autista feita no Goldman Sachs em setembro e a idílica mensagem de fim de ano.

    Na primeira, Wall Street foi informada de que o Brasil implementa o "maior programa de concessões do mundo" e sua política industrial "foca em inovação e desenvolvimento tecnológico". Na segunda, os brasileiros soubemos que em 2014 nosso padrão de vida será "ainda melhor".

    Em Davos, fazem-se comparações. O Brasil impressiona mais quando se mede contra seu próprio passado. Menos quando se ladeia com emergentes asiáticos ou com seus primos latinos da Aliança do Pacífico (México, Chile, Colômbia e Peru).

    O problema é que Davos estará cheio de guerreiros psicológicos. Como o fórum se inicia dois dias antes, quando a presidente fizer sua intervenção na sexta os milhares de presentes já terão sido martelados com análises de que "os ricos estão emergindo".

    EUA, Europa e Japão voltaram a crescer e isso não é necessariamente boa notícia para países que, como o Brasil, vislumbraram o declínio do capitalismo interdependente.

    O Planalto aposta que a simples presença de Dilma ajuda na retomada da confiança no Brasil. A mensageira seria mais importante que a mensagem. Tal superestimação é um erro.

    Uma presidente carrancuda lendo roboticamente um "selfie" prefabricado não inflexionará opiniões. Falar de improviso, olhar nos olhos, comprometer-se com reformas estruturais, reconectar-se à globalização, dizer que o país não se permitirá ficar para trás –isso, sim, pode surtir efeito. Ela terá essa postura e visão?

    Em 2010, quando era "o cara", Lula admoestava Davos: "Não há sinais de que a crise tenha servido para repensarmos a ordem econômica mundial".

    Tomara que Dilma dê sinais de que a nova ordem econômica mundial está servindo para que o Brasil se repense –e se reposicione.

    mt2792@columbia.edu

    marcos troyjo

    Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.

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